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Maior inflação americana em 30 anos derruba Wall Street

Por aqui, também teve alta no IPCA – a maior em 19 anos para um mês de outubro. Mas Faria Lima deixa a inflação de lado e fecha em alta na esteira da PEC dos Precatórios, que segue para o Senado.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
10 nov 2021, 18h36

Hoje foi mais um dia de agenda espelhada entre EUA e Brasil: saíram os indicadores de inflação. E até a aceleração nos preços se alinhou. O que não ficou igual foi o rumo das bolsas de valores.

Lá nos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,9% em outubro. A inflação ficou acima das projeções do mercado, que apontavam para 0,6%. Já no acumulado em 12 meses, os preços sofreram sua maior alta (6,2%) desde novembro de 1990. Exato: não há uma inflação assim por lá desde o tempo em que a maior promessa da seleção brasileira era o Craque Neto. 

O aumento nos preços também bateu recorde no chamado “núcleo da inflação”. Ele mede a evolução dos preços excluindo alimentos e energia, pois são grupos que variam demais. Bom, em outubro, o índice-núcleo teve alta de 0,6%. Na comparação anual, o salto foi de 4,6% – o maior desde agosto de 1991.

O mercado balançou com essas altas. E não é para menos. O CPI é o principal indicador que o Federal Reserve leva em conta na hora de definir os seus próximos passos sobre a redução do programa de compra de títulos e o ajuste na taxa de juros – mantê-la perto de zero com uma inflação dessas é um perigo. Fato.

O banco central americano, de qualquer forma, insiste em dizer que a inflação é temporária. Mas o mercado começa a duvidar seriamente. E isso, claro, influenciou Wall Street. O Nasdaq caiu 1,66%, aos 15.622 pontos. O S&P 500, 0,82%, aos 4.646 pontos. 

Por aqui, a inflação subiu para 1,25% em outubro – acima da expectativa, de 1,05%. Essa é a maior variação para o mês em 19 anos, desde 2002, quando foi registrada 1,31%.

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No ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 8,24%; já nos últimos 12 meses, a inflação continua nos dois dígitos: 10,67% (também acima da expectativa de 10,45%). 

Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em outubro. Mas o vilão da vez foi o combustível. O grupo de transportes foi o que mais subiu (2,62%), puxado pelos combustíveis (3,21%). Além disso, o afrouxamento das medidas de restrição fizeram os os preços das passagens aéreas subirem 33,86%.

O grupo de alimentos e bebidas ficou mais perto da média geral (1,17%). 

Olhos em Brasília

Com a alta na inflação, o Ibovespa poderia seguir Wall Street. Mas não foi o que aconteceu. A bolsa subiu 0,41%, aos 105.967 pontos – a alta chegou mais de 1% ao longo do dia, mas o Ibov perdeu força no decorrer da tarde. O bote salva-vidas foi a PEC dos Precatórios. 

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A proposta foi aprovada em 2º turno na Câmara e agora segue para ser votada no Senado. Só para relembrar: A PEC adia o pagamento de precatórios e altera o cálculo do teto de gastos para abrir um espaço orçamentário em torno de R$ 90 bilhões para 2022. O plano do governo é aproveitar esse valor para viabilizar o programa social Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família. 

Por que o mercado ficou feliz com a PEC? 

Veja, ela não é o melhor dos cenários – o ideal para o mercado seria o governo mostrar mais disciplina com as contas públicas, e não institucionalizar pedaladas em dívidas (o que a PEC faz).

Mas, caso ela acabe barrada, a solução que o governo propõe é retomar o auxílio emergencial, cuja última parcela foi paga no mês passado. E nem seria preciso decretar calamidade pública novamente para viabilizar o auxílio. É possível, por exemplo, entrar com o pedido de créditos extraordinários, que permite a liberação de verbas adicionais sem precisar se preocupar com o teto de gastos. 

E isso seria puro combustível para a inflação – que invariavelmente sobe junto com os gastos públicos. A PEC, pelo menos, tira dinheiro de um lugar (o bolso de que, tem precatórios a receber) para colocar em outro (o Auxílio Brasil). Isso basicamente anula a pressão inflacionária. Menos mal.    

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Queda livre

A Braskem liderou as quedas do dia depois de um tombo de 11,88%. A companhia reportou R$ 3,5 bilhões de lucro no terceiro trimestre. 

Ela conseguiu reverter o prejuízo de R$ 1,3 bilhão registrado no mesmo período do ano passado, graças a uma melhora de 77% da receita, que ficou em R$ 28,2 bilhões entre julho e setembro, e o maior volume de vendas. 

Legal. Mas a Braskem também teve uma queda de 17% no seu resultado operacional (que não inclui despesas ou receitas financeiras), jogando um balde de água fria nos investidores, que esperavam mais: antes da queda de hoje, as ações da Braskem já tinham subido 120% no ano. 

Nota: com a inflação do jeito que está, qualquer ação que não tenha subido mais de 10% vai gerar uma perda no valor real das carteiras. Durmamos com isso.

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Maiores altas

Bradesco PN (BBDC4): 5,75%

Petz (PETZ3): 5,47%

MRV Engenharia (MRVE3): 5,03%

Bradesco ON (BBDC3): 4,72%

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Energisa (ENGI11): 4,53%

Maiores baixas

Braskem (BRKM5): -11,88%

Via (VIIA3): -5,84%

Azul (AZUL4): -4,25%

Raia Drogasil (RADL3): -3,61%

Carrefour (CRFB3): -3,42%

Ibovespa: 0,41%, aos 105.967 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,82%, aos 4.646 pontos

Nasdaq: -1,66%, aos 15.622pontos

Dow Jones: -0,66%, aos 36.079 pontos

Dólar: 0,10%, a R$ 5,5001

Petróleo

Brent: -2,52%, a US$ 82,64

WTI: -3,34%, a US$ 81,34

Minério de ferro: -3,68%, US$ 88,90 no porto de Qingdao (China)

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