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IPCA e Payroll criam dia bipolar nas bolsas. Ibovespa cai 0,44%

Inflação de 0,67% gera euforia. Depois, depressão. Nos EUA, índices de emprego criam depressão, depois fica tudo bem. Entenda.

Por Alexandre Versignassi
8 jul 2022, 18h02

A economia não é física newtoniana, na qual cada causa tem uma consequência exata. O componente humano ali é maior do que parece. Não raro, um mesmo fato desencadeia reações opostas. E hoje tivemos um baita exemplo disso. 

Fato 1: O IPCA de junho veio em 0,67% – dentro do esperado. Trata-se de uma aceleração em relação aos 0,47% de maio. Mas os dados do IBGE vieram com algo mais positivo lá dentro. Mostraram que 66% dos produtos que eles pesquisam tiveram aumento de preço. É pouco comparado aos outros meses. 

Em maio, mesmo com uma aceleração menor, o vírus inflacionário estava presente em 72% dos ítens. Em abril, 78%. Na real, esse índice (que os economistas chamam de “difusão da inflação) é o menor desde novembro de 2021.

Beleza. Tivemos, então, que o Ibovespa abriu em alta. Nada mais natural, oras. Era uma reação ao lado bom desse IPCA de junho. 

Mas não durou muito. Ao final da manhã, o índice voltou ao negativo, de onde não saiu mais. E encerrou o dia em -0,44%.

O que aconteceu nesse meio tempo? Nada. Foi uma reação ao lado ruim do IPCA de junho – que acelerou em relação a maio, afinal. 

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Um mesmo dado. Duas consequências. Com vitória do lado pessimista no final. Nada mais humano, e menos exato.

Fato 2: Nos EUA, foi o contrário. Hoje saiu o Payroll, relatório mais importante sobre o emprego por lá. A bola de cristal do economistas apontava (levantamento da Reuters) para a criacão de 268 mil novas vagas. Surgiram 372 mil. Além disso, o desemprego se manteve em pífios 3,6%, um dos menores da história. 

Uau. 

Esse dado veio logo de manhã. A bolsa abriu em alta, então? Nope: abriu chorando, no vermelho. Uma economia forte, afinal, deixa a porteira aberta para o Fed continuar lascando aumentos de 0,75 ponto percentual a cada reunião. Altas de juros, afinal, machucam a economia para derrubar a inflação. E bater numa economia forte é mais seguro do que fazer o mesmo com uma economia minguante. Ou seja: provavelmente virão mais altas fortes nos juros.  

Caso o Fed siga mesmo nesse ritmo, os juros americanos vão fechar o ano perto de 4% (contra 1,75% de hoje). Isso fortaleceria a demanda por renda fixa (títulos públicos, basicamente), roubando dinheiro da renda variável (a bolsa). Aí a bolsa já cai de véspera.  

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E aí tivemos uma sangria desatada, certo? Errado: o S&P 500 fechou no zero a zero (-0,08%). Após a baixa inicial, veio um certo otimismo. Uma economia forte, afinal, é algo intrinsecamente positivo. Esse sentimento resgatou as bolsas americanas das profundezas, e o S&P 500 terminou o dia estável. 

No fim das contas, o saldo da semana acabou no positivo lá e cá. Alta de 1,01% no Ibovespa, na comparação com o fechamento da última sexta. E de 1,93% no S&P 500. 

Nada tão ruim para uma estrada que só leva a um caminho: juros mais altos nos próximos meses – a ponto de o site do Tesouro Direto ter entrado em “circuit breaker” (em aspas porque não existe esse termo no mercado de títulos públicos; foi “só” uma suspensão das negociações). As taxas foram à ionosfera, com o IPCA+2026 passando a pagar 6,04% (+inflação). 

Quem estava esperando por esse presente, pode ir às compras. A quem entrou antes, em 4,5%, 5,0%, só resta afogar as mágoas.

Bom que hoje é o dia para isso.

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Até segunda!   

 

Maiores altas

Azul (AZUL4): 6,23%

Cielo (CIEL3) 5,13%

Via (VIIA3): 3,40%

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3R Petroleum (RRRP3): 3,13%

PetroRio (PRIO3): 2,54%

 

Maiores baixas

Hapvida (HAPV3): -4,37%

CVC (CVCB3): -4,63%

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Sul América (SULA11): -4,31%

CSN (CSNA3): -3,18%

Totvs (TOTS3): -3,17% 

 

Ibovespa:

-0,44%, a 100.288 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,08%, a 3.899%

Nasdaq: 0,12%, a 11.635

Dow Jones: -0,14%, a 31.339 

Dólar:

-1,44%, a R$ 5,26

Petróleo:

Brent: 2,26%, a US$ 107,02

WTI: 2%, a US$ 104,79

Minério de ferro:

-0,55%, a US$ 113,68 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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