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Ibovespa três vezes vermelho: -0,11% hoje, -7% no mês e -13% no trimestre

Bolsa tem três meses e 7,5% de alta pela frente para fechar o ano pelo menos no zero a zero. Vai precisar contar com a boa vontade de Brasília – e do mundo.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
30 set 2021, 18h31

Foi um dia, um mês e ainda um trimestre no vermelho. Queda de 0,11% hoje, 7% no mês e brutais 13% no trimestre. O Ibovespa tem agora três meses para fechar o ano no azul, mas para conseguir tal façanha, precisa subir uns 7,5%. Comparado à sangria recente, parece muito. Nem é tanto assim, desde que Brasília – e o mundo – colaborem.

Infelizmente, nada indica que isso irá acontecer. Hoje o dia nem precisava ter sido negativo por aqui. O Ibovespa vinha numa alta contida, mas era alta. Até que o Broadcast noticiou que o governo pretende contrabandear a prorrogação do auxílio emergencial dentro da PEC dos Precatórios. 

O jeitinho representa um novo risco às contas públicas, já que a PEC é uma pedalada fiscal para fazer sobrar algum dinheiro para o Bolsa Família turbinado e algum investimento no próximo ano. Sem a PEC, os precatórios são pagos integralmente dentro do teto de gastos – não sobra de onde cortar.

Recorrer à prorrogação do auxílio também é uma prova de que o governo não consegue emplacar a sua agenda, isso enquanto brasileiros disputam restos de carne e ossos para aplacar a fome. Nesta quinta, o IBGE noticiou que o desemprego teve um pequeno alívio: a taxa de desocupação caiu para 13,7% no trimestre encerrado em julho, abaixo das projeções do mercado. Ainda assim, 14,1 milhões de brasileiros continuam atrás de trabalho no país.

Isso enquanto a inflação vai corroendo toda e qualquer fonte de renda que aparece. Nesta quinta, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o pico de alta de preços foi justamente neste trimestre que se encerra hoje: 10,2%. Para o fim do ano, o BC espera que o IPCA fique em 8,5%, acima dos 6,5% projetados antes. 

Se a inflação pesa no bolso, imagine então quando chegar mais paulada de juros para segurar a fera. A Selic já saiu de 2% para 6,25%, na próxima reunião deverá ir a 7,25%. E enquanto o consenso do mercado fala em 8,50% ao fim do ano, Campos Neto disse que os juros vão subir por mais tempo. Ou seja, a Selic até pode terminar o ano em 8,5%, mas não vai parar por aí. Danou-se para quem precisar de crédito.

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E isso vale para as empresas, claro. Com custo de investir mais caro, o potencial que elas têm de dar lucro lá na frente diminui e aí começam os ajustes do mercado já no presente. Esse é um dos motivos para o Ibovespa ter voltado aos 110 mil pontos. Não custa lembrar, o mercado financeiro chegou a projetar a bolsa brasileira em 150 mil pontos, uma previsão que durou um bom naco de 2021. 

Não mais. As previsões mais otimistas agora falam naqueles distantes 130 mil pontos que encostamos no começo de junho. Hoje, o índice fechou a 110.979 pontos (sem o % pq tá lá em cima).

O dólar, que tem ajudado a segurar a inflação na lua, tampouco trouxe alívio. Fechou em alta de 0,29%, a R$ 5,4462. Na comparação com outras divisas globais, o dólar ficou praticamente estável (-0,09%). Quer dizer, foi culpa do caos doméstico a disparada do câmbio.

Mal humor externo

Nos EUA, o último dia do mês também não foi dos melhores. Começou com o aumento de 11 mil pedidos de auxílio-desemprego, totalizando 362 mil pedidos. O mercado foi pego de surpresa, já que as projeções eram de 335 mil pedidos na semana.

Isso traz incertezas sobre o aquecimento do mercado de trabalho e, querendo ou não, afeta as decisões do Federal Reserve. O banco central americano tem duas tarefas: controlar a inflação e garantir o nível máximo de emprego. Assim como aqui, os preços por lá também andam subindo com gosto, e investidores temem um descontrole da inflação em prol do nível ótimo de emprego. Enquanto o Fed caminha na corda-bamba, o mercado se pergunta se a torneira de US$ 120 bilhões que pingam na economia todos os meses começará a ser fechada em novembro.

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Como nem tudo é ruim, no final do dia os deputados americanos aprovaram um projeto de lei com um mini-orçamento para evitar a paralisação do governo por falta de dinheiro. Lá, o ano, financeiramente falando, começa em outubro. E sem orçamento aprovado, o governo não pode gastar. 

Nessa indefinição, as bolsas continuaram no negativo. E com gosto. O Nasdaq caiu 0,44%, aos 14.448 pontos. Já o S&P 500 fechou no negativo: queda de 1,19%, aos 4.307 pontos. 

Por lá, setembro também não foi um mês de festa. No caso do Nasdaq, a desvalorização é de 5,3%. E o terceiro trimestre quase ficou no zero a zero (-0,4%). O S&P 500 perdeu um pouco menos nos últimos 30 dias: -4,76%. Mas fechou o trimestre no azul, com alta de 0,23%. 

Um sinal de esperança

Tem gente correndo pelas beiradas enquanto o mundo parece colapsar. A PetroRio disparou mais de 10% depois do anúncio de que ela compraria dois campos da Petrobras na Bacia de Campos. 

Não só isso, a companhia tem sido vista como uma alternativa às ações da estatal em um momento em que governo ameaça com intervenções para conter os preços dos combustíveis. Ontem, a companhia anunciou um programa de R$ 300 milhões de subsídio para gás de cozinha a famílias em situação de vulnerabilidade social. 

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O problema? Para o mercado, a medida pode ser usada para campanhas políticas em 2022. O presidente Jair Bolsonaro critica o preço do gás liquefeito de petróleo (GLP) há semanas e até já sugeriu distribuir botijões para beneficiários do Bolsa Família.

E não é de hoje que a PetroRio figura no topo do pregão. Só no mês de setembro foram 13 dias no positivo, contra oito no vermelho. A valorização já passa de 31%. 

Como a gente disse no começo, não faltam motivos para se preocupar com as famílias brasileiras. E é papel do governo buscar soluções. Só não dá para cobrar que acionistas da Petrobras paguem a conta sem reclamar. Até amanhã.

Maiores altas

PetroRio (PRIO3): 9,63%

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Gerdau (GGBR4): 3,95%

Metalúrgica Gerdau (GOAU4): 3,24%

CSN (CSNA3): 3,05%

Usiminas (USIM5): 2,68%

Maiores baixas

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Banco Inter (BIDI11): -7,26%

Méliuz (CASH3): -5,12%

Cielo (CIEL3): -4,58%

CVC (CVCB3): -3,93%

Santander (SANB11): -2,91%

Ibovespa: -0,11%, aos 110.979 pontos

Em NY:

S&P 500: -1,19%, aos 4.307 pontos

Nasdaq: -0,44%, aos 14.448 pontos

Dow Jones: -1,59%, aos 33.843 pontos

Dólar: +0,29%, a R$  5,4462

Petróleo

Brent: +0,28%, a US$ 78,31

WTI: +0,27%, a US$ 75,03

Minério de ferro: +4,47%, US$ 119,23 no porto de Qingdao (China)

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