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Ibov perde 103 mil pontos com plano B para aumento no Auxílio Brasil

Jeitinho do governo para garantir os R$ 400 mensais do novo Bolsa Família faz a bolsa cair ao menor patamar do ano.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
Atualizado em 17 nov 2021, 19h09 - Publicado em 17 nov 2021, 19h09

Se a gente dissesse que o Ibovespa chegou a subir 1% hoje, você nem acreditaria. A bolsa até tentou se manter no positivo para se recuperar do tombo de ontem, mas isso não durou nem uma hora. Depois de cair 1,39%, o Ibov fechou o seu terceiro dia consecutivo de perdas com o menor patamar do ano e dos últimos doze meses: 102.948 pontos. A última vez que o índice ficou abaixo dos 103 mil pontos foi em 12 de novembro do ano passado. 

Culpa da vontade desenfreada do governo de gastar, independentemente do que venha a acontecer com a PEC dos Precatórios. A proposta já está há uma semana sendo avaliada pelo Senado e tudo indica que passará por mudanças. Do jeito que está, ela não tem apoio suficiente para ser aprovada. 

Dos 81 senadores, pelo menos 35 já disseram que pretendem votar contra – é preciso de 49 votos para aprovar a PEC. Três senadores (Alessandro Vieira, José Aníbal e Oriovisto Guimarães) estão elaborando propostas alternativas que não estourem o teto de gastos e nem rolem o calote das dívidas judiciais que o governo precisa pagar. Mas isso leva tempo e ainda obriga o texto a voltar para  Câmara, que precisa dar aval às mudanças dos senadores. Não é coisa para 2021.

Por enquanto, sabe-se que uma mini-pedalada deve cair. O Senado quer manter o atual cálculo usado para a correção do teto de gastos anualmente. Ele sempre considerou o IPCA acumulado em 12 meses até junho, enquanto que a proposta liberada pela Câmara leva em conta a inflação de janeiro a dezembro. 

Segunda mudança: os senadores querem colocar dentro da PEC as emendas do relator. O STF barrou essas emendas, apelidadas de Orçamento Secreto, mas o Senado vem tentando voltar com ela. Em troca, eles prometem uma maior transparência com os gastos. 

Vale lembrar que o objetivo original da PEC dos Precatórios é pedalar dívidas que o governo deveria pagar em 2022 para 2023 em diante. Com isso, sobraria dinheiro para pagar o aumento do Auxílio Brasil – y otras cositas más, claro, ainda mais em ano eleitoral.

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Os senadores querem cortar a farra e direcionar todo o dinheiro, estimado em R$ 90 bilhões, para programas sociais. Nisso, eles fechariam de vez a porta para mais uma promessa de Bolsonaro que deixou o mercado financeiro de cabelo em pé. É que o presidente prometeu reajuste salarial para todos os servidores – uma despesa permanente, algo diferente do dinheiro pela pedalada nos precatórios. Por fim, o Senado também quer acabar com o caráter temporário do Auxílio Brasil. Oficialmente, o valor de R$ 400 seria pago somente até dezembro do ano que vem – aqui é efeito contrário, um gasto permanente pago com uma receita temporária.

Veja bem, o Auxílio Brasil começou a ser pago hoje com valor médio de R$ 217,18, um naco maior que o benefício médio do Bolsa Família. O plano do governo é aumentar a parcela para o mínimo de R$ 400 já no mês de dezembro. Sem o dinheiro da PEC, não teria como pagar. Aí que veio a notícia de que Brasília já prepara uma medida provisória pedindo a prorrogação do auxílio emergencial para arrumar dinheiro. O teto de gastos, nisso, é só um objeto cenográfico. E daí porque a bolsa brasileira voltou a cair – não, não foi o Touro de Ouro que deu azar (risos). 

Conto de fadas

Enquanto isso, o país vai degringolando, mas o Ministério da Economia finge que não vê. Hoje, foram revistos os principais indicadores econômicos oficiais do país. Agora, a estimativa para o PIB é de crescimento de 5,1% neste ano – um pouco mais baixo do que os 5,3% divulgados em setembro, mas ainda acima dos 4,88% previstos pelo mercado financeiro.

Para 2022, a equipe de Paulo Guedes diz que a alta será de 2,1% –  na mediana, o mercado ainda fala de 0,93%, mas há quem preveja recessão.

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Jogando contra

Se existia alguma esperança no exterior, ela também se foi. Wall Street passou o dia no vermelho preocupado com as pressões inflacionárias. O mercado está tenso com a possibilidade de o Federal Reserve pensar em mexer nas taxas de juros. Hoje, elas estão entre zero e 0,25% e o Fed até já disse que não deve subir as taxas tão cedo. 

O plano é deixar a taxa básica como está até que sejam alcançados os objetivos de máximo emprego e inflação a 2% no longo prazo. Mas esse plano pode ser antecipado. O presidente da unidade regional de St. Louis do Federal Reserve, James Bullard, afirmou que devem acontecer dois aumentos no ano que vem. 

O Nasdaq caiu 0,33%, aos 15.921 pontos. Já o S&P 500 fechou em baixa de 0,26%, aos 4.688 pontos. 

Estão abertas as apostas: será que o Ibovespa cai mais esta semana?

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Maiores altas

Meliuz (CASH3): 4,49%

Alpargatas (ALPA4): 1,41%

Raia Drogasil (RADL3): 1,31%

Weg (WEGE3): 1,27%

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Ultrapar (UGPA3): 1,21%

Maiores baixas

Locaweb (LWSA3): -8,61%

Banco Inter (BIDI4): -7,10%

Banco Inter (BIDI11): -6,69%

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Eletrobras (ELET6): -6,61%

Eletrobras (ELET3): -6,25%

Ibovespa: -1,39%, aos 102.948 pontos

Em NY:

S&P 500: -0,26%, aos 4.688 pontos

Nasdaq: -0,33%, aos 15.921 pontos

Dow Jones: -0,58%, aos 35.931 pontos

Dólar: 0,45%, a R$ 5,5242

Petróleo

Brent: -2,61%, a US$ 80,28

WTI: -2,75%, a US$ 77,55

Minério de ferro: 1,16%, US$ 91,04 no porto de Qingdao (China)

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