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Déjà-vu? Inflação americana assusta e volta a derrubar bolsas mundo afora

E não foi só ela: por aqui, o aumento do IPCA-15 também amargou o humor. Ibovespa cai 1,65% no dia e 3,09% na semana.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 24 fev 2023, 18h58 - Publicado em 24 fev 2023, 18h55

Sim, ela de novo. 

A inflação americana novamente assustou os mercados nesta sexta-feira, se mostrando mais alta e persistente do que o previsto por analistas – e jogando um balde de água fria no otimismo do mercado quanto ao aumento de preços por lá.

O PCE (sigla para “personal consumption expenditures”, algo como “despesas de consumo pessoal”) avançou 0,6% em janeiro de 2023; na comparação anual, saltou 5,4%. O núcleo do índice – que exclui gastos com comida e energia, mais voláteis – subiu 0,6% no mês, acima dos 0,4% projetados. No acumulado de 12 meses, saltou 4,7%, também acima dos 4,5% projetados. A meta de inflação do Fed, banco central americano, é de 2%.

O PCE é o índice preferido do Fed e guia suas decisões monetárias – por isso tem grande impacto nas bolsas não só americanas como de todo o mundo. Quando ele vem acima das expectativas, como hoje, é convite para o azedume entre investidores.

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Não dá para falar que a inflação alta “voltou”, é claro, porque ela nunca foi embora. Mas, nas últimas semanas, o medo do aumento dos preços vinha sendo substituído por um otimismo – até Jerome Powell, presidente do Fed, reiterou que a desinflação havia começado nos EUA e injetado uma forte dose de bom humor nos mercados. Investidores apostavam que o remédio do Fed (altas nos juros) estava fazendo efeito sem que os efeitos colaterais (esfriamento da economia) fossem tão fortes assim.

O novo dado veio para jogar um balde de água fria nesse sentimento. Agora, o pessimismo parece ter voltado, já que a previsão é que o Fed continue subindo os juros – e que eles fiquem altos por mais tempo. Falas de dirigentes do BC americano nos últimos tempos já vinham indicando nessa direção, diga-se. E o payroll segue mostrando que o mercado de trabalho está bastante aquecido, mostrando uma economia ainda forte e resiliente.

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Atualmente, os juros por lá estão na faixa dos 4,50% e 4,75%. Agora, as apostas é que passe do patamar dos 5% com tranquilidade – há quem aposte que chegue nos 5,5%, uma possibilidade quase inexistente algumas semanas atrás.

Depois da divulgação dos dados, a presidente do Fed de Boston, Susan Collins, reiterou que o combo de indicadores recentes (payroll, inflação e vendas no varejo) reforçam a sua visão de que o Fed precisará continuar o aperto monetário com mais insistência para domar o aumento dos preços. 

O resultado é que os índices americanos sextaram fundo no vermelho. O S&P 500 recuou 1,05%; o Nasdaq, que concentra ações de tecnologia, afundou 1,69%. O impacto da inflação nos EUA também encomendou mau humor no mundo todo: o Euro Stoxx 50 caiu 1,8%; bolsas em Frankfurt e Paris também tombaram quase 2%.

Inflação e novela dos combustíveis

Não foi só nos EUA que um dado de inflação assustou. Por aqui também: o IPCA-15, considerado a prévia da inflação, subiu 0,76%, acima da expectativa dos 0,72%. O destaque ficou para o setor de educação, com reajuste das mensalidades escolares no início do ano letivo.

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A nova alta vem em meio a um cenário já pessimista para a inflação brasileira. Os flertes do novo governo com a irresponsabilidade fiscal, a insistência de Lula na guerra contra o Banco Central buscando abaixar os juros na canetada e a novela dos combustíveis fazem todo mundo revisar suas projeções para a inflação para cima.

Hoje também teve novo capítulo da novela dos combustíveis. A notícia da vez é que o governo pode prorrogar a isenção dos impostos federais da gasolina e do diesel, atualmente com fim marcado para março, por até mais dois meses, segundo fontes disseram ao Globo. Não é consenso: enquanto Haddad e sua equipe são contras, a ala política se mostra favorável à medida populista. Uma outra alternativa é subir o imposto aos poucos, para o impacto sentido ser menor.

Pela manhã, Lula se reuniu com Jean Paul Prates, presidente da Petrobras, e com os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), e Rui Costa (Casa Civil) para discutir a questão dos combustíveis, mas não houve uma decisão tomada.

Enquanto isso, Alckmin tentou apagar o incêndio, dizendo que ainda não há nenhuma definição sobre nada. Pouco adiantou. Até porque outros membros do governo fizeram indicações contrárias. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, voltou a criticar a política de preços da Petrobras e indicou que uma mudança pode vir depois de abril. Nada de novo, é verdade, mas é uma novela impossível de se ignorar.

Com isso, o Ibovespa fechou em queda 1,65%, aos 105.798 pontos. O volume financeiro foi de apenas R$ 19 bi. Na semana encurtada pelo Carnaval, o índice tombou 3,09%. 

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Bom final de semana.

Maiores altas

Azul (AZUL4): 4,96%

Gol (GOLL4): 1,44%

Magazine Luiza (MGLU3): 1,40%

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SLC Agrícola (SLCE3): 0,77%

Energia (ENGI11): 0,67%

Maiores baixas

Dexco (DXCO3): -6,14%

CSN Mineração (CMIN3): -5,52%

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CSN (CSNA3): -5,22%

Raízen (RAIZ4): -4,93%

Alpargatas (ALPA4): -4,74%

Ibovespa: -1,67%, aos 105.798 pontos

Em Nova York

S&P 500: -1,05%, aos 3.970 pontos

Nasdaq: -1,69%, aos 11.394 pontos

Dow Jones: -1,02%, aos 32.817 pontos

Dólar: 1,23%, a R$ 5,1987

Petróleo

Brent: 1,16%, a US$ 83,16 

WTI: 1,23%, a US$ 76,32

Minério de ferro: -2,36%, a US$ 126,66 por tonelada no porto de Qingdao (China)

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