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Cresce a pressão para um aumento de 1,25% na Selic

Furo no teto de gastos empurra os juros para cima, e a bolsa para baixo. No exterior, mercados amanhecem andando de lado.

Por Alexandre Versignassi e Guilherme Jacques
Atualizado em 20 out 2021, 09h01 - Publicado em 20 out 2021, 08h55

Ontem foi um daqueles dias em que, se chovesse algodão-doce no mercado internacional, cairia um jegue sobre as nossas cabeças. Quando o governo deixou claro que quer, sim, furar o teto de gastos para comprar votos via Bolsa Família/Auxílio Brasil, o mercado virou as costas para o que estava acontecendo lá fora. Resultado: Ibovespa -3,28% X + 0,74% S&P 500.

O anúncio do Auxílio de R$ 400, que aconteceria às 17h, acabou adiado indefinidamente. Guedes provavelmente convenceu o chefe de que não seria de bom tom para a reeleição a bolsa acordar sob um circuit-breaker hoje. 

Não que quem esteja passando fome ligue alguma coisa para circuit-breaker. O fato é que um mercado financeiro de mau humor chama por mais aumentos nos juros. Aumentos nos juros freiam a economia. E economia de freio de mão puxado cria desemprego, pobreza.

Quem determina o passo dos aumentos nos juros é o “DI futuro” – grosso modo, as apostas que o mercado faz para o nível da Selic nos próximos anos. Ontem, essas apostas fecharam em 9,8% para janeiro de 2023 – 0,5 p.p acima de anteontem. Um salto.

Quando isso acontece, o Banco Central tende a aumentar o ritmo das altas nos juros. O “combinado” era subir um ponto da Selic (hoje em 6,25%) a cada reunião do Copom (são 8 por ano). Agora, a expectativa do mercado é a de que aumentem 1,25% na próxima, que acontece dia 27/10, daqui a uma semana.

Não só por isso, claro. O furo no teto de gastos, em si, aumenta a pressão inflacionária. O BC aumenta os juros para drenar dinheiro da economia (e segurar os preços na marra). O governo, ao acenar para um aumento nos gastos públicos, faz o oposto: joga mais dinheiro na praça – o que empurra a inflação para cima. Uma bateção de cabeça que só traz maus agouros: seja para a Faria Lima, seja para as comunidades carentes – com uma inflação fora do controle, de nada adiantará um Auxílio Brasil de R$ 400. Os R$ 400 passam a valer menos, afinal. 

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0%

Lá fora, as bolsas andam de lado, com as bolsas da Europa os índices futuros nos EUA rondado os 0%. O grande assunto é: os aumentos nos preços do petróleo, a inflação galopante e os gargalos de produção (como a falta de chips, que breca a produção de carros e iPhones) vão afetar os lucros das empresas até que ponto? Tesla e IBM soltam seus balanços hoje, e devem ajudar a resolver esse quebra-cabeça.     

Na Zona do Euro, a inflação foi de 3,4% em setembro, em relação ao mesmo mês do ano passado. É o maior índice desde 2008. Na Alemanha, os Preços ao Produtor Industrial (o IGPM deles) está no maior nível desde 1974: 14,2%. Lá atrás, a alta tinha sido por conta de uma alta histórica nos preços do petróleo. Agora também. Ou seja: se o barril não baixar, a alta nos preços ao produtor pode chegar na inflação que mais conta, a dos preços ao consumidor.

Ou seja: a fogueira inflacionária é global. A diferença é que aqui o governo joga gasolina em cima dela.   

humorômetro: o dia começou sem tendência definida
(Arte/VOCÊ S/A)

Futuros S&P 500: -0,02%

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Futuros Nasdaq: 0,02%

Futuros Dow: -0,01%

*às 8h00

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,01%

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Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,04%

Bolsa de Frankfurt (Dax): 0,11%

Bolsa de Paris (CAC): -0,07%

*às 7h51

Fechamento na Ásia

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Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): -0,25% 

Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,14%

Hong Kong (Hang Seng): 1,35%

Commodities

Brent: -1,08%, a US$ 84,16

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Minério de ferro: 0,02%, a US$ 124,07 por tonelada no porto de Qingdao, na China

*às 7h53

Agenda

10h Relatório final da CPI da Covid.

11h30 Estoques de petróleo nos EUA – determinantes para a cotação do barril.

15h Livro Bege do Fed – no qual o Banco Central dos EUA divulga suas perspectivas para a economia.

market facts

“Vai faltar gasolina” 

É o temor da Brasilcom, associação que representa uma parte das distribuidoras de combustíveis. Motivo: a Petrobrás ter dito que não conseguirá atender a toda a demanda por gasolina e diesel de novembro. Segundo a petroleira, os pedidos de fornecimento foram “atípicos”, mas a parte não atendida poderia ser absorvida por empresas importadoras. Aí vem o lance: as distribuidoras e não apenas as representadas pela Brasilcom alegam que não teriam mais como comprar do exterior por causa dos preços “em patamares bem superiores aos do Brasil”. Basicamente, o argumento evidencia a defasagem dos preços praticados pela Petrobrás nos últimos meses, artimanha para suavizar os aumentos. Por outro lado, isso inviabiliza importações, que são negociadas pelos valores reais do mercado internacional. Esse desacerto, diz a Brasilcom, deixaria o país em uma situação de “potencial desabastecimento”. A Agência Nacional do Petróleo negou o risco, mas apenas “nesse momento”. Ou seja, a ver as cenas do próximo capítulo. 

Adiós, casa nova

Depois de um período de forte aquecimento, puxado pelas novas necessidades residenciais impostas pela pandemia (home office), o segmento imobiliário de média e alta renda parece ter começado a esfriar. É o que indicam os resultados do terceiro trimestre de 2021, apresentados por incorporadoras como Cyrela, Even e Melnick. Divulgados em conjunto, os dados mostram que houve uma desaceleração e as vendas líquidas subiram apenas 2,5% se comparadas às do trimestre equivalente em 2020. No acumulado dos nove meses deste ano, no entanto, o saldo positivo é mais consistente, com expansão de 31% nas vendas. A explicação está no peso que o consumidor desse segmento dá ao cenário macroeconômico. Entenda-se: quanto maior a desconfiança, menor a disposição de investir.

Vale a pena ler:

É o Brexit, não a pandemia

Há um fato preocupante sobre o Reino Unido: ele não tem conseguido acompanhar o movimento de recuperação global da economia. Após quase dois anos de pandemia, o mais óbvio seria culpar a crise causada pela covid-19 –  afinal, outras economias ainda sofrem, mesmo com as medidas de contenção. Mas na equação que o premier Boris Johnson deve resolver há uma variável extra, o Brexit. Em vigor desde o início do ano, a separação entre Reino Unido e União Europeia impôs uma série de dificuldades, burocráticas e financeiras, para o comércio. Com isso, por exemplo, enquanto o comércio mundial cresceu em julho 4% em relação ao final de 2019, no território de BoJo as exportações caíram 16%. O The Wall Street Journal detalha o cenário e relata as dificuldades enfrentadas por empresas britânicas.

Dividendos em dólar

As 65 empresas americanas do índice Dividend Aristocrats: o das que pagam dividendos crescentes nos últimos 25 anos. Entenda também se vale mais a pena abrir conta em uma corretora lá fora ou investir via BDRs. Na Você S/A

 

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