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Bolsa: imposto sobre ganho de capital não atrapalhou ganho de capital

Taxa de Biden para os 0,3% mais ricos dos EUA parece ter sido melhor digerida. E o bom humor lá de fora chegou aqui: alta de 0,97% no Ibovespa. 

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 23 abr 2021, 23h45 - Publicado em 23 abr 2021, 18h29

Foi só um espirro. Ontem, as bolsas entraram em trajetória de queda depois de Joe Biden anunciar que pretende aumentar os impostos dos americanos mais ricos. Nesses momentos, o raciocínio de quem investe costuma ser binário: mais impostos = menos dinheiro para o mercado. 

E quando a previsão é a de que o mercado terá menos dinheiro no futuro ele pega e passa a ter menos dinheiro no presente: o pessoal vende ações antes que o preço delas caia, e a venda em si faz o preço cair. Resultado: um tombo de -0,9% no S&P 500, o Ibovespa dos EUA, e de -0,58% no Ibovespa, que é o Ibovespa daqui (perdão, baixou um tiozão do pavê aqui),

Mas veio a sexta-feira, e ficou claro que pô, calma, não era para tanto. O imposto de Biden não transforma os EUA numa reedição da União Soviética. Trata-se de uma medida extremamente racional. Mais ainda em tempos de dívida pública a patamares jamais vistos desde a Segunda Guerra Mundial. 

O novo imposto atinge só 0,3% dos americanos – aqueles que declaram ganhos de mais de US$ 1 milhão por ano no imposto de renda (estamos falando no equivalente a R$ 460 mil por mês). E não se trata de uma extorsão estatal.

O imposto incide apenas sobre os chamados “ganhos de capital”. Se você ganha mais de US$ 1 milhão por ano e, além disso, ainda teve a sorte de lucrar uns milhares de dólares extras outro dia com, tipo, ações da Tesla, você vai pagar imposto a mais sobre esse chorinho. 

Quanto imposto a mais? A alíquota sobre o lucro sobe dos atuais 20% para 39,6%. Claro que só quem come a pimenta sabe o quão ardida ela é. Ninguém espera um apoio efusivo dos 0,3% mais ricos à medida. Mas, olha só, tem gente do 0,000000000003% mais abonado que até curte a filosofia por trás da coisa.

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“Preciso pagar mais impostos”, disse Warren Buffett (dono de US$ 103 bilhões) à CNN em 2018. “Já pago mais imposto do que todo mundo, mas o governo deveria exigir que gente na minha posição pagasse significativamente mais”.

Biden atendeu o pedido do maior investidor da história, e sem enfiar a faca de forma tão significativa. Estamos falando de um imposto sobre ganhos extras, afinal, não de uma taxação capaz de fazer com que milionários americanos se mudem para países mais amigáveis a ganhos de capital – como o Brasil, que taxa só 15% sobre ganhos de capital (menos do que os americanos pagam hoje sem reclamar). 

Enfim. Biden tem um programa de obras de infraestrutura para reavivar a economia americana. A brincadeira vai custar pelo menos US$ 3 trilhões. E é bom que ele encontre alternativas de financiamento mais racionais do que imprimir dinheiro (medida que cria inflação). 

Como disse o Nobel de Economia Paul Krugman à Bloomberg: “Biden tem uma agenda ambiciosa, então algum aumento nos impostos vão fazer parte dessa história. E se toda a consequência disso for uma queda de 1% no preço das ações, não tem problema”. 

De fato. Se o programa de Biden funcionar, toda a economia dos EUA (e do mundo) só tem a ganhar. E quem já é rico pode ficar tranquilo: ficará mais rico, mesmo pagando um pouquinho mais para o leão.

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Talvez essa tenha sido mesmo a percepção do mercado. O S&P 500 ganhou 1,09% hoje, apagando a queda de ontem. O Índice Nasdaq, das empresas de tecnologia, foi até mais longe: 1,44%. O Ibovespa acompanhou a onda, com uma alta de 0,97%. E uma semana que teve como destaque o imposto sobre ganhos de capital termina… com ganhos de capital 😉  

Bom fim de semana.  

Maiores altas

Gol: 4,12%

Via Varejo: 3,88%

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Braskem: 3,56%

Sulamérica: 3,55%

Tim: +3,29%

Maiores Baixas

Cielo: -3,10%

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Cosan: -2,49%

Marfrig: -2,06%

Pão de Açúcar: -1,55%

Minerva: -1,28%

Ibovespa: 0,97%, aos 120.530 pontos

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Em NY

S&P 500: 1,09%, aos 4.180 pontos

Nasdaq, 1,44%, aos 14.016 pontos

Dow Jones: 0.67%, aos 34.043 pontos

Dólar: 0,78%, a R$ 5,49

Petróleo

Brent: 1,09%, a US$ 66,11

WTI: 1,16%, a US$ 62,14

Minério de ferro: 1,43%, a US$ 186,25 a tonelada, no porto de Qingdao (China).

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