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Abertura de mercado: uma outra reforma tributária no radar de investidores

Governo também deve ceder em parte da PEC dos Precatórios, que causou alvoroço no mercado financeiro. E isso é um bom sinal para o Ibovespa nesta quarta.

Por Tássia Kastner, Bruno Carbinatto
Atualizado em 25 ago 2021, 08h27 - Publicado em 25 ago 2021, 07h20

A reforma do Imposto de Renda, ao menos do jeito original, parece que fez água mesmo. O projeto inicial ganhou outras quatro versões em apenas dois meses. Acabou tão deformada que virou um monstrengo sem o apoio de ninguém. Ontem, Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, disse que iria atrás da oposição para tentar aprovar ao menos a taxação de dividendos, hoje isentos no Brasil. É uma anomalia. Só Singapura, Hong Kong, Estônia e Letônia, além do Brasil, não cobram uma parte do lucro de acionistas.

Enquanto Lira discute o que dá para fazer em termos de IR na Câmara, o Senado disse que quer contribuir, desde que não seja com o monstrengo. Não com essas palavras, claro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, defende uma reforma tributária ampla e trouxe os Estados para o debate. A ideia é a criação de um imposto único, o chamado IVA dual (Imposto sobre o Valor Agregado). Esse tributo unificaria PIS/Cofins, IPI, o ICMS (estadual) e ISS (municipal). O lance do dual é permitir que estados e municípios definam uma fatia da alíquota do IVA, em vez de engessar numa taxa única para todo mundo.

Um dos problemas da deformação continuada da reforma do IR era uma possível queda de arrecadação de Estados e Municípios. Municípios conseguiram uma compensação com a ampliação do Fundo de Participação dos Municípios, mas os Estados ainda pretendiam garantir o seu quinhão. Isso foi visto como um risco não desprezível da reforma. O lance é que o apoio dos prefeitos veio. Por isso, o ministro Paulo Guedes afirmou que “tudo bem” se o senado quiser debater outra reforma, desde que com o apoio dos municípios também. Ele já havia abandonado o projeto do ministério.

Ainda no tópico reformas, o governo pode abandonar um dispositivo da PEC dos Precatórios, aquela que deve autorizar o governo a parcelar dívidas que não poderiam mais ser prorrogadas. O que pode mudar, segundo o Valor Econômico, é a saída de um fundo proposto na PEC. Esse fundo reservaria dinheiro de privatizações para o pagamento das dívidas futuras, e foi considerado um “jeitinho” de driblar o teto de gastos.

O resumo dessa ópera, é que o mercado financeiro encontrou dois motivos sólidos para afastar o medo de um colapso fiscal no país – por enquanto. E, nisso, tem chances de engatar um segundo dia de alta na bolsa brasileira. Ontem, o Ibovespa recuperou os 120 mil pontos.

Investidores terão pouco apoio do exterior hoje. A China fechou em alta, mas bolsas europeias e índices futuros americanos estão mais próximos do zero a zero. O petróleo, depois da disparada de ontem, oscila entre perdas e ganhos.

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Ao menos por hoje, o cenário daqui é mais favorável. Boa quarta!

humorômetro: o dia começou sem tendência definida
Imagem sem crédito e fonte (Arte/VOCÊ S/A)

 

Índices dos EUA no início da manhã estão estáveis

Futuros S&P 500: 0,06%

Futuros Nasdaq: 0,08%

Futuros Dow Jones:  0,05% 

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*às 7h50

Europa

Europa

Índice europeu (EuroStoxx 50): 0,11%

Bolsa de Londres (FTSE 100): 0,19%

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Bolsa de Frankfurt (Dax): -0,22%

Bolsa de Paris (CAC): 0,19%

*às 7h30

Fechamento na Ásia

Fechamento da Ásia 

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Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 0,20%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): -0,03%

Hong Kong (Hang Seng): -0,13%

Commodities

Petróleo*

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Brent: 0,30%, a US$ 71,26 

WTI: 0,18%, a US$ 67,66

Minério de ferro: alta de 1,73% em Qingdao (China), cotado a US$ 146,66 a tonelada

*às 8h00

Agenda

9h IBGE divulga o IPCA-15, uma espécie de prévia da inflação oficial. Economistas esperam alta de 0,84% de julho para agosto.

9h30 BC divulga resultado das contas externas, com entrada e saída de dólares por transações de comércio exterior, investimento estrangeiro direto e gastos de brasileiros no exterior

12h Receita Federal divulga arrecadação de impostos em julho. Na segunda, o ministro Paulo Guedes disse que o dado viria “explodindo”

14h STF retoma julgamento de independência do Banco Central. O projeto que dá autonomia ao órgão foi sancionado neste ano. Na semana passada, Bolsonaro disse ter se arrependido da decisão.

14h30 Tesouro divulga relatório mensal da dívida pública de julho

16h Roberto Campos Neto fala em evento. O presidente do BC tem dado seguidas palestras e comentado a situação fiscal do país e reforçado o compromisso com a meta de inflação.

market facts

Cadê a chuva?

O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, disse que há uma “relevante piora” nas condições energéticas do Brasil. Falta água para mover as hidrelétricas do país. O governo já acionou usinas térmicas e repassou o custo para a conta de luz, na forma de uma bandeira vermelha turbinada. Não foi suficiente. O comitê recomenda, no documento, “flexibilizações temporárias nas restrições de operação na bacia do Rio São Francisco”. O problema é que não deu detalhes de como fazer isso e nem detalhou os impactos, já que a água sempre tem outros usos, como abastecimento das cidades, agricultura e ainda a manutenção da vida no rio. O documento foi enviado ao MME.

Fagocitando

O Mercado Livre (MELI34) anunciou ontem a compra da plataforma de entrega de encomendas Kangu, criada em 2018. A startup conecta vendedores de e-commerce a uma rede de lojas e outros pequenos estabelecimentos que servem como pontos de entrega onde vendedores podem deixar seus produtos e os compradores podem buscar as encomendas. O Mercado Livre já era parceiro do Kangu e usava seus mais de cinco mil pontos de entrega no Brasil, México e Colômbia. Agora, trouxe o serviço para dentro de casa. Entrega ampla, barata e rápida é a nova fronteira de concorrência dos e-commerces.

Vale a pena ler:

Segredos do ESG 

Tariq Fancy foi CIO de sustentabilidade da toda poderosa gestora BlackRock (com quase US$ 10 trilhões em ativos sob gestão). Ele publicou um longo ensaio criticando a indústria de investimentos sustentáveis. Aqui, o link para a primeira parte do texto original no Medium. Neste texto do Financial Times, o colunista Robert Armstrong resume os argumentos.

Os perigos do IPO

A gestora Squadra, responsável por mostrar ao mercado toda a sorte de problemas do IRB Brasil, voltou a carga. Eles se voltaram aos IPOs. Em sua carta aos cotistas, eles dizem que entraram em quatro ofertas de ações – foram quase 60 aberturas de capital. O motivo, disseram, foi a baixa transparência das empresas vendendo seus papéis. No mercado financeiro, há uma expressão para isso: assimetria de informações. Leia.

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