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Abertura de mercado: investidores encaram uma pororoca de caminhoneiros com inflação

Após protestos de 7 de setembro, caminhoneiros bloqueiam estradas em apoio ao presidente e arriscam ainda mais a recuperação da economia, agora com um risco de desabastecimento.

Por Juliana Américo, Tássia Kastner
Atualizado em 9 set 2021, 08h41 - Publicado em 9 set 2021, 08h20

Bom dia!

Diz o meme que o brasileiro não tem um minuto de paz nesse país. O problema é que a piada já perdeu a graça. Enquanto todo mundo prestava atenção ao massacre na B3, um caminhoneiro aliado do presidente Bolsonaro nos atos antidemocráticos – e foragido – incitava uma paralisação dos colegas de norte a sul do país.

A última vez que caminhoneiros pararam as estradas, em 2018, houve desabastecimento, inflação e a economia desandou por bons meses. Imagina agora, em que se tenta sair do buraco no meio de uma crise política “feita à mão” em Brasília. Do olho do furacão que ele mesmo criou, Bolsonaro fez circular um áudio de WhatsApp pedindo a desmobilização “se for possível”. 

O problema? Os caminhoneiros não acreditaram que fosse mesmo o presidente. Depois, o ministro da Infraestrutura gravou um vídeo para dizer que o áudio era verdadeiro. Tampouco colou, e o número de bloqueio nas estradas subiu de 14 para 16.

Vale dizer que existe uma suspeita de locaute (greve de empresas, o que é ilegal) nesse protesto. Companhias do agronegócio, apoiadoras do bolsonarismo, haviam incentivado caminhoneiros a parar na marcha de 7 de Setembro. Eles gostaram e decidiram continuar mobilizados.

Enquanto isso, começam a surgir imagens de filas em postos de combustíveis, de gente com medo de ficar sem gasolina (ou pagar ainda mais que R$ 7 por ela). E, para completar, empresas alertam para risco de desabastecimento, isso porque a crise deixada no rastro da pandemia complicou a logística e os estoques no mundo todo. A depender de os caminhoneiros ouvirem Bolsonaro, ou não, essa paralisação fomentada no coração do planalto central pode deixar todo mundo ainda mais pobre.

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Mais pobre, sim. Às 9h, sai a inflação oficial do país em agosto, medida pelo IBGE. A expectativa do mercado é de desaceleração no índice na leitura mensal, para 0,70%. Ainda assim, trata-se de uma expectativa de pesados 9,5% no acumulado em 12 meses. Continuam pesando a alta dos alimentos e os reajustes na conta de luz – os dois casos, um resultado direto da escassez hídrica do país.

Ontem, no desarranjo financeiro causado pela escalada autoritária no país, os juros futuros deram uma escalada e passaram a ser negociados acima de 10% ao ano também nos contratos mais curtos, com vencimento em 2025.

Juros futuros sobem em antecipação ao aumento da taxa definida pelo Banco Central para controlar a inflação (a Selic, hoje em 5,25% ao ano), mas também quando investidores acham que a economia do país irá desandar, e aí pedem uma remuneração maior para financiar o governo. 

E nem os EUA devem trazer alívio para o dia, já que lá os mercados também entraram em modo cautela. Essa semana curta já parece mais longa que um mês de agosto. Até amanhã.

Humorômetro

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Futuros S&P 500: queda de 0,25%

Futuros Nasdaq: queda de 0,21%

Futuros Dow: queda de 0,24%

*às 7h25

Europa

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Índice europeu (EuroStoxx 50): queda de 0,32%

Bolsa de Londres (FTSE 100): queda de 1,18%

Bolsa de Frankfurt (Dax): queda de 0,22%

Bolsa de Paris (CAC): queda de 0,18%

*às 7h50

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Fechamento na Ásia

Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): estável em -0,04%

Bolsa de Tóquio (Nikkei): queda de 0,57%

Hong Kong (Hang Seng): queda de 2,30%

Commodities

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Petróleo (Brent*): alta de 0,32%, a US$ 72,83

Minério de ferro:  queda de 1,46%, a US$ 130,26 por tonelada no porto de Qingdao

*às 7h40

Agenda
(Laís Zanocco e Tiago Araujo/VOCÊ S/A)

8h45 O Banco Central Europeu (BCE) divulga a sua política monetária. Com a inflação acima do esperado, e PIB do bloco um pouco melhor, agora o mercado financeiro discute quando o BCE começará a retirar parte dos estímulos à economia.

09h O IBGE divulga o IPCA de agosto. A expectativa é de que a inflação desacelere a 0,70% na comparação mensal, mas chegue a 9,5% no acumulado em 12 meses.

09h O secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, participa de uma sessão na CCJ da Câmara sobre a PEC dos precatórios.

09h30 O Departamento de Trabalho dos EUA divulga o número de pedidos de seguro-desemprego da semana passada.  

09h30 Discurso Christine Lagarde, presidente do BCE.

market facts

Mão pesada

A bolsa de Hong Kong (Hang Seng) deu uma de Brasil e tombou 2,30% nesta quinta-feira – o índice de tecnologia deles despencou mais, 4,5%. Investidores mais uma vez saíram vendendo ações de empresas tech chinesas após uma nova rodada de ameaças do governo. Xi Jinping vem pegando pesado, e hoje reguladores criticaram empresas como a Tencent por colocar o lucro à frente de obrigações sociais. As intervenções mais pesadas nas gigantes chinesas começaram no ano passado, quando Pequim barrou o IPO do Ant Group, o braço financeiro da Alibaba. Depois disso, a China já impediu downloads da Didi (o Uber chinês), interviu em startups de educação e ainda limitou a quantidade de horas que jovens podem passar em jogos online.

Via Tech

A Via (#VIIA3) anunciou investimentos em três startups: GoPublic, Poupa Certo e byebnk. Todas devem turbinar os serviços financeiros da ex-Via Varejo. Por sinal, foi justamente por isso que a companhia ceifou o varejo do nome. A GoPublic oferece ferramentas de análise de crédito, a Poupa Certo é de educação financeira, e a byebnk é uma plataforma para investimentos em criptomoedas.

Vale a pena ler:

O lado B do teletrabalho

A pandemia mostrou que trabalhar de casa é possível. E muita gente se adaptou a essa rotina. Mas, agora, as empresas se deparam com um problema: os funcionários estão deixando os cargos mais rápido por não criarem relações pessoais com os colegas de trabalho. 

Conforme relata o The New York Times, 2,8% dos trabalhadores americanos (ou 3,9 milhões de pessoas) pediram demissão. Para evitar a perda de talentos, as empresas estão criando agendas de atividades presenciais e contratando “gestores de home office” para ajudar quem trabalha remotamente a se enturmar. Leia mais aqui (em inglês)

Match do gás

A Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia) vai lançar uma chamada pública para aproximar consumidores e vendedores de gás natural. O objetivo é acelerar a abertura do mercado, que já foi liberado em abril. O presidente da associação, Paulo Pedrosa, comparou a iniciativa ao aplicativo de relacionamentos Tinder. A Abrace só vai coordenar os “encontros” e os produtores e consumidores que vão fechar os acordos de compra. 

Segundo o Estadão, a indústria é a principal consumidora de gás natural no Brasil. Ele é utilizado como combustível para fornecimento de calor e geração de eletricidade, e também como matéria-prima nos setores químico e petroquímico. Leia aqui. 

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