Continua após publicidade

A semana em que o mundo virou um grande Brasil

Só falta a feijoada e a caipirinha: crise energética, estagnação econômica e inflação agora ameaçam o resto do globo. 

Por Alexandre Versignassi
28 set 2021, 18h23

O mundo passa por uma crise energética – que nada tem a ver com falta de chuva. E os efeitos disso podem minar a recuperação econômica que vinha se desenhando globo afora. Nisso, os mercados fecharam feio, fecharam rudes: -2,04% para o S&P 500 (maior queda desde maio nos EUA) e -3,05% por aqui, com 88 das 91 ações do Ibovespa fechando no vermelho.

O problema começa na China, o motor da nossa bolsa – e da nossa balança comercial. A questão energética por lá vem da falta de planejamento. Do excesso de planejamento, na verdade. Por causa do seguinte: não costuma dar certo quando um governo decide “planificar” a economia, de modo que ela não funcione de acordo com a lei da oferta e da demanda, mas seguindo uma cartilha bolada por um comitê de burocratas.

A intenção do governo chinês é boa, não há dúvida. A ideia é reduzir brutalmente as emissões de CO2 do país.  Como só temos um planeta, não há mesmo outra saída. 

O problema começa quando os burocratas tomam decisões de sopetão, sem medir as consequências nem dar tempo de a economia se adaptar. E a China erra em dois lados aqui. 

De um, colocou metas aparentemente irreais de redução de emissões. Isso fez com que praticamente nenhum governo local ou empresa conseguisse cortar o que era preciso. Pequim não gostou e mandou cortar na marra. Resultado: termelétricas começaram a cortar o fornecimento para alcançar as metas. Isso gerou apagões em algumas partes do país, e ameaça a produção da indústria chinesa – que é o chão de fábrica da indústria global.

Se isso não bastasse, o carvão começou a ficar caro demais. Como não há horizonte para as termelétricas no futuro, os investimentos na mineração desse combustível fóssil diminuíram. A oferta diminuiu. Logo, os preços cresceram. Para completar, Pequim proibiu termelétricas de importar carvão da Austrália por conta de uma rusga diplomática – o que pressionou mais ainda os preços. Nisso, algumas usinas a carvão pararam de funcionar por falta de carvão. 

Continua após a publicidade

Só tem um detalhe: se o problema fosse só na China, tudo bem. Basta o governo recalibrar suas diretrizes (sem abrir mão do objetivo mais importante, que é reduzir as emissões de CO2) que, tudo bem, as coisas voltariam aos eixos.

O problema é que o mundo também sofre com uma crise energética. Por outros motivos, mas sofre. O tsunami de dinheiro que os bancos centrais despejaram no mundo desenvolvido fizeram o preço do barril passar de US$ 80 pela primeira vez em três anos. E, sim, a redução nos investimentos na extração de combustíveis fósseis reduz a oferta, o que joga os preços para cima.  

Como todos os setores da economia dependem de transporte, e o grosso do transporte ainda depende de petróleo, a alta do barril faz com que todos os preços subam, num ritmo bem maior do que os ganhos da população. É exatamente o que ocorre no Brasil, só que agora o resto do mundo começa a sentir – na forma de índices de inflação que teimam em não ceder e de uma economia que empacou por conta dos preços altos. 

Não existe uma solução simples. Não faz sentido promover novos investimentos em combustíveis fósseis – ou viramos essa página da história, ou não teremos uma história no futuro. É preciso acelerar as alternativas limpas – mas também não dá para fazer isso num estalar de dedos (nem na China, onde tudo se resolve com estalos de dedos). 

Também não basta dizer para os bancos centrais do mundo todo pararem de liberar dinheiro barato e tacarem os juros lá em cima. O que temos neste momento é inflação com estagnação. E matar a inflação criando mais estagnação é, como dizia Joelmir Beting, matar a vaca para acabar com o carrapato. 

Continua após a publicidade

Por outro lado, desprezar a inflação custa caro. O Brasil mesmo manteve seus juros baixos demais, por tempo demais. E agora o BC daqui não tem outra alternativa a não ser aumentar os juros no ritmo cavalar em que eles estão subindo. Sem isso, o carrapato mata a vaca, afinal.

Estamos acostumados a nos ver em sinucas de bico assim. Agora é a vez de as grandes economias experimentarem um pouco dela – um gosto que elas não sentiam desde a década de 1970, quando outro boom nos preços do petróleo criou uma estagflação global. Boa sorte para todos nós. 

Maiores altas 

Minerva (BEEF3): 1,75% 

BRF (BRFS3): 0,99%

Continua após a publicidade

Taesa (TAEE11): 0,14%

Maiores baixas

Inter – Units (BIDI11): 11,82%

Inter – PN (BIDI4): 11,70%

Méliuz (CASH3): 8,65%

Continua após a publicidade

CSN (CSNA3): 7,64%

Usiminas (USIM5): 7,40%

Ibovespa: -3,05%, aos 110.123 pontos

Nova York

S&P 500: -2,04%, a 4.352 pontos

Continua após a publicidade

Nasdaq: -2,83%, a 14.546 pontos

Dow Jones: -1,63%, a 34.299 pontos

Dólar: 0,85%, a R$ 5,42

Petróleo

Brent: -1,16% , a US$ 78,61

WTI: alta de 1,93%,  a US$ 75,41

Minério de Ferro: -7,17% a US$ 112,06 por tonelada no porto de Qingdao (China)

Publicidade