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Quer melhorar sua criatividade? Estes 4 profissionais explicam como

Ter bons insights não é uma tarefa simples, mas é essencial para o trabalho. Estes profissionais contam como se reinventar foi essencial na carreira

Por Michele Loureiro, da VOCÊ RH
Atualizado em 20 dez 2019, 12h22 - Publicado em 21 mar 2019, 06h00

Uma pesquisa global feita pelo LinkedIn mapeou as habilidades mais procuradas pelas empresas em 2019. E o que está no topo da lista? A criatividade. Essa competência é muito desafiadora, afinal não dá para conquistá-la apenas fazendo um curso.

“O que constrói a habilidade são experiências, treinamentos específicos, convivências com outros profissionais e processos de feedback”, diz Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para a América Latina.

O processo criativo deve começar com uma mudança interna. “O maior e mais íntimo desafio são as pessoas quererem ser criativas”, diz Thiago Gringon, professor de criatividade e inovação na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Segundo ele, a competência pode ser estruturada em três fases: ordem, caos e ócio.

Em um primeiro momento, é interessante estruturar e categorizar as informações que você tem disponível.

Em seguida, vem o caos. “É hora de buscar novas referências, jogar todas as possibilidades na mesa e entender quais são as aflições de partir para o novo”, diz.

Por último, vem a etapa do ócio, que não significa ficar sem fazer nada. “Deve-se dar um tempo, contemplar o ambiente a sua volta e permitir que as informações se misturem e façam sentidos juntas”, diz.

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Para ajudá-lo a ser mais criativo, VOCÊ S/A conversou com quatro profissionais de áreas completamente diferentes que precisam, no dia a dia, encontrar caminhos inovadores.


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Cristiane Rozeira de Souza Silva, ou apenas Cris, de 33 anos, é conhecida por ser uma atleta versátil que faz gols de todos os jeitos | Leando Fonseca (Leandro Fonseca//VOCÊ S/A)

Em equipe 

De pé direito, esquerdo, cabeça, letra e bicicleta, Cristiane Rozeira de Souza Silva, ou apenas Cris (foto acima), de 33 anos, é conhecida por ser uma atleta versátil que faz gols de todos os jeitos. Três vezes entre as melhores do mundo, ela começou a jogar futebol aos 7 anos, na rua, dividindo os chutes com o irmão mais velho e outros meninos da vizinhança.

Aos 15, defendia a Seleção Brasileira e, três anos depois, foi para um clube na Alemanha. “Tive de ser criativa para jogar em posições em que não era acostumada aqui.”

O currículo de Cristiane é extenso e inclui passagens por clubes no exterior (em países como Estados Unidos, Suécia e China) e no Brasil — onde atua hoje, usando a camisa do São Paulo.  “Alguns técnicos tentaram mudar meu jeito de jogar. Mas nunca deixei, sempre fiz minhas jogadas pensando no melhor para o time.”

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Para se inspirar, Cristiane gosta de assistir a lances de importantes nomes do futebol e aposta na concentração. “Esse tempo de pausa de pelo menos um dia antes dos jogos é muito importante e ajuda a pensar. Além disso, ter referências também é fundamental para ser criativo.”

Ela jura que não planeja os dribles e jogadas antes das partidas, mas a colega Marta, a número 1 do mundo, já disse que as duas são muito entrosadas e combinam os lances. “Tudo que eu crio dentro do campo é pensando no time. Não fico planejando jogadas individu­­ais para me promover, mas deixo a criatividade rolar na hora da partida.”

Maior goleadora do futebol feminino e masculino em Jogos Olímpicos (com 14 gols) e terceira artilheira da Seleção Brasileira, atrás de Marta e Pelé (com 83 gols), Cristiane considera que a criatividade em campo vai muito além dos dribles — inclui lances como virada de campo, análise do tempo de bola e movimentos imprevisíveis.

Tudo isso é fruto da preparação. “Habilidade é importante, mas a técnica e a questão tática podem mudar tudo. Por isso, mais do que talento, dominar sua área é essencial.” 


Cidade aberta

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Apolo Torres, 32 anos, artista plástico e muralista | Germano Lüders

Formado em Desenho Industrial pela Universidade Mackenzie e com curso de pintura na School of Visual Arts, em Nova York, nos Estados Unidos,

Apolo Torres, de 32 anos, tem trabalhos espalhados pela cidade de São Paulo. O mais famoso é o mural Educação não é crime, localizado na Praça Roosevelt, no centro da capital paulista, no qual uma garotinha tenta alcançar uma nuvem de livros.

Para um artista, criatividade não deveria ser um problema. Mas ele sempre precisa surpreender. Seu segredo é usar o cotidiano como inspiração. “O nascimento da minha filha ou o falecimento do meu avô apareceram no meu trabalho, seja com um carro enferrujado, seja com coisas que lembram a juventude.”

Para fazer uma pintura, Apolo leva em média um mês, do planejamento à execução. Nesse tempo, alterna sua reflexão entre momentos íntimos (dentro de seu estúdio, ouvindo música) e caminhadas pela cidade. “Quando decido o local, passo os primeiros dois dias andando pela região, tiro fotos, observo as pessoas que circulam por lá e me ambiento.”

Na fase em que o prazo está chegando ao fim, a criatividade aflora. “Quando o prazo é longo, fico pensando, viajando. Funciono com o deadline mais curto.”

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A dica de quem precisa a cada trabalho usar a criatividade ao máximo e criar telas e murais diferentes a todo momento é não se tornar refém do que já foi feito. “Você precisa buscar o conflito, explorar o incerto, a insegurança. Meu trabalho tem uma personalidade, mas o que fiz há dez anos é diferente do que faço hoje.”


Sob demanda

Bolívia faz sucesso no YouTube | Germano Lüders

Quem vê o personagem Bolívia com uma máscara branca, óculos de sol e um gorro apresentando programas no canal Desimpedidos — o maior de esportes do YouTube, com quase 7 milhões de seguidores — não imagina todo o processo criativo que há por trás dos quadros que misturam esportes e humor.

Jornalista de formação, o roteirista de 40 anos não gosta de ter sua identidade revelada. Com experiência em veículos de comunicação, agências de publicidade e no programa CQC, no qual era roteirista, ele se transformou no Bolívia sem querer.

“Certo dia, não tinha de aparecer numa live. Peguei uma máscara que estava no estúdio e comecei a fazer o personagem de forma despretensiosa. Já são cinco anos no ar.”

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Acostumado a ficar sempre atrás das câmeras, ele agora é responsável por apresentar três quadros semanais. “O desafio é inovar a cada dia sem perder a identidade. Criatividade é como a música. O sujeito até pode nascer com o dom, mas, se não estudar e aprimorar a habilidade, não adianta nada.”

Bolívia desenvolveu algumas técnicas para se inspirar — uma delas é entender em que momento deve fazer atividades que exigem insights.

Para escrever os roteiros, por exemplo, prefere estar em casa, onde há silêncio e espaço para concentração.  “Normalmente faço isso depois das 10 da noite. Sou uma pessoa noturna e aprendi que só rendo assim.”

Apesar de planejar seus programas, o improviso também faz parte do processo criativo. “Nenhuma situação pode ser 100% planejada, portanto você precisa estar preparado para agir rápido.”

Além dos programas que participa, Bolívia colabora com roteiros para outros quadros do canal. “Não é fácil criar tanta coisa em um prazo tão reduzido, mas minha experiência em agências, que são uma ‘pastelaria da criatividade’, me ajuda a ter sacadas rápidas, e o prazo curto acelera meu processo criativo.”


Um menu por dia

Chef Viviane Gonçalves, comanda o restaurante ChefVivi | Germano Lüders

Sentar-se em uma das mesas do Chef Vivi é ter a certeza de que você será surpreendido. Isso porque, a cada dia, a cozinheira Viviane Gonçalves muda o menu. Nos pratos, podem surgir consomÊ de shiitake, arroz negro com Ora-Pro-Nóbis e bolinho de tâmaras com calda de caramelo.

As portas de seu pequeno empreendimento abriram em 2011, um ano depois de a empreendedora voltar para o Brasil. Por 11 anos, ela viveu no exterior, onde teve uma bem-sucedida experiência comandando o Alameda, um premiadíssimo restaurante fundado por ela em Pequim, na China.

Desde que retornou para São Paulo, mantém uma rotina que a estimula em diversos momentos. “A criatividade está nas caminhadas com minha cachorra, nas minhas idas ao cinema ou ao Masp [Museu de Arte de São Paulo]. É o tempo todo, porque nem sempre dá para viajar e pegar inspiração.”

Além disso, a proximidade com os produtores locais e com a equipe também são fontes preciosas. Para trazer seu time para perto, Viviane dá aos subordinados aulas de consciência corporal — assim, eles conseguem lidar melhor com a rotina pesada de uma cozinha profissional e ganham mais confiança. “Eles precisam se sentir importantes para criar. Não adianta fazer o melhor prato do mundo se não olhar para quem está ao meu lado.”

Mas como ser inovador com a pressão de entregar o melhor prato no tempo certo para não desagradar ao cliente? Na opinião de  Viviane, a criatividade não valeria nada se a disciplina “quase militar” da gastronomia não estivesse presente. “Na cozinha há o lado criativo e o lado rígido. Sempre falo que temos horas de preparo, você ensaia muito, mas o show é curto.”   

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