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Mercado pet cresce graças a mudanças no comportamento dos donos de animais de estimação

As oportunidades de trabalho aumentam no segmento de saúde pet, que deve fechar o ano com 13% de crescimento

Por Por Mariana Poli
Atualizado em 17 dez 2019, 15h18 - Publicado em 20 jan 2017, 08h00

Mais de 50 milhões de cães e 22 milhões de gatos de estimação. Esses números impressionantes, divulgados no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ajudam a entender o sucesso de um dos negócios que mais crescem no Brasil: o mercado pet. Com faturamento previsto de 19,2 bilhões de reais e expansão de quase 7% em relação ao ano passado, o setor resiste à crise. 

Embora sinta os reflexos da desaceleração da economia, ele surpreende pela resiliência diante dos índices de desemprego e da corrosão da renda da população pela inflação. “Mesmo crescendo mais devagar, o mercado de animais de estimação representa 0,38% do produto interno bruto (PIB) e já é maior do que a linha branca de geladeira e fogão”, diz José Edson Galvão de França, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).

E a grande vedete dentro desse mercado é o segmento de saúde animal. Impulsionado pelo avanço da tecnologia, esse nicho avança na casa dos dois dígitos – a projeção é que cresça 13% em relação a 2015, quase o dobro do mercado pet como um todo. 

Mas o que faz essa área se destacar tanto num período em que as pessoas estão cortando gastos? A resposta é simples: a mudança de comportamento dos donos dos bichos. Nos últimos anos, os animais de estimação passaram para dentro das casas e ganharam o status de membros da família. 

“Como sobem no sofá, dormem no quarto e dividem o ambiente com as crianças, eles passaram a ser mais bem cuidados por seus donos. A atitude, que antes era curativa, se tornou preventiva”, diz Gustavo Moraes, diretor de negócios da unidade pet da MSD Saúde Animal, que no ano passado faturou 576 milhões de reais no Brasil.

Essa transformação de perfil chacoalhou a área de animais de estimação da MSD. Nos últimos dois anos, metade da equipe foi substituída ou remanejada e investiu-se pesado no desenvolvimento de pessoas e na criação de novas vagas. Só neste ano, foram sete contratações, três delas em nível gerencial – ainda há uma vaga de coordenador de território aberta. 

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A empresa percebeu o potencial de crescimento da área de saúde animal após o lançamento, em 2016, do primeiro antipulgas oral do país. “Antes dele, a MSD ocupava a nona posição no ranking de empresas do segmento pet. Hoje, já está na primeira posição”, diz Gustavo. 

Para crescer nesse filão, a companhia não economiza. Em julho deste ano, levou 400 funcionários, proprietários de estabelecimentos e distribuidores para passar uma semana num resort na Praia do Forte, na Bahia, para debater a importância da prevenção de doenças nos animais. Só nesse evento o investimento foi de cerca de 1,5 milhão de reais.

A Zoetis, fabricante global de produtos farmacêuticos animais, também surfa a onda dos medicamentos inovadores que surgem para conquistar um dono cada vez mais exigente. Além de lançar o próprio antipulgas oral, para enfrentar a concorrência, a companhia aposta em um remédio sem corticoide para romper o ciclo de coceira e inflamação associado às alergias. 

Com esses lançamentos, a empresa, que no último trimestre faturou 56 milhões de reais no Brasil, espera retomar o ritmo de crescimento, que sofreu uma desaceleração no primeiro semestre de 2016 em relação a 2015. “Já sentimos ânimo no mercado e temos uma boa perspectiva para 2017”, diz Tiago Papa, diretor da unidade de animais de companhia da Zoetis.

Outro nicho que tem brilhado é o de rações medicamentosas, que auxiliam no tratamento de doenças renais, cardíacas e de pele. Mesmo com valores salgados – um pacote de 10 quilos pode ­custar 180 reais -, não há estagnação nem queda nesse segmento. Só neste ano, a Royal Canin, uma das maiores fabricantes de alimentos especiais do mundo, lançou sete produtos – 70% deles rações medicamentosas -, como uma linha especial para combater a obesidade de cães e gatos. Para 2017, há mais oito lançamentos programados. Cães de pequeno porte e gatos – cuja população cresce duas vezes mais rapidamente do que a de cachorros – estão entre as principais apostas da empresa. 

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“Comparados com a grande massa de ração, esses alimentos representam 5% do mercado. Mas é possível dobrar esse percentual em cinco anos”, afirma Frederico Giannini, diretor de vendas da Royal Canin. Segundo ele, foi a certeza desse potencial que levou a empresa a ampliar em 6% o quadro de funcionários em plena crise. “Cerca de 50 pessoas foram contratadas em todas as áreas estratégicas da companhia”, diz. 

A ampliação é resultado dos investimentos que a Mars, norte-americana detentora das marcas Royal Canin, Pedigree e Whiskas, tem feito no Brasil. No ano passado, a empresa anunciou um aporte de 250 milhões de reais para turbinar a área de petcare. Uma parte foi usada para a expansão de fábricas como a de Descalvado (SP), onde fica a produção da Royal Canin; outra, para incrementar o portfólio; e a terceira, para construir uma fábrica em Ponta Grossa (PR), que ficará pronta em 2017.

Angélica Carvalho, de 37 anos, gerente do centro de distribuição da Royal Canin em Campinas (SP), colhe os frutos dessa expansão. Onze meses atrás, deixou Curitiba, cidade natal onde atuava como gerente regional da Royal Canin, para assumir a gerência do centro de distribuição em Campinas, no interior de São Paulo. 

Além do salário mais alto e de novos benefícios, como auxílio-moradia, ganhou mais responsabilidade. Acostumada a trabalhar sozinha, passou a liderar 32 pessoas. “Fiz um treinamento robusto de liderança, que me deu suporte em gestão de pessoas”, diz Angélica. O próximo passo será fazer uma especialização em marketing.

Segundo André Prazeres, líder da comissão de animais de companhia do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), essa indústria se tornou uma boa opção para veterinários. “Como a área clínica é ultracompetitiva e demanda investimento, oportunidades corporativas são bem-vindas”, diz. Além de pesquisa e desenvolvimento, as áreas comercial e de marketing também geram vagas para profissionais com outras formações.

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Planos de saúde

Com os novos avanços, a medicina veterinária está mais cara. Por isso, o plano de saúde pet tem se tornado uma alternativa cada vez mais atraente para quem tem um bichinho de estimação. “Quando o animal adoe­ce, o dono apaixonado faz de tudo para salvá-lo. E os custos com internação e remédios podem chegar facilmente a 10 000 reais. Para a classe média, é um impacto no orçamento e faz sentido ter um plano”, diz Marcello Falco, diretor da Petplan, líder global em seguros de saúde para bichos. 

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Há cinco anos no Brasil, a empresa oferece três tipos de plano, a partir de 83 reais mensais, e opera por enquanto no estado de São Paulo, onde tem 500 veterinários credenciados. Em 2017, deve iniciar operações em Curitiba e no Rio de Janeiro. A projeção para os próximos dois anos é chegar a uma carteira de 30 000 vidas.

Mas a Petplan terá concorrência nessa tarefa. Nascida em 2014 com o aporte de 6 milhões de reais de três sócios vindos do mercado de planos de saúde para humanos, a Health for Pet teve 51% das operações compradas pela Porto Seguro no ano passado. 

Com a ajuda do exército de 28 000 corretores da Porto, a empresa cresce a passos largos e já conta com 22 000 vidas e 700 veterinários credenciados em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e região metropolitana, além de Piracicaba e Campinas, no interior paulista. “Temos também os primeiros contatos de empresas nos procurando para oferecer o benefício aos funcionários”, diz Fernando Leibel, sócio e presidente da Health for Pet.

A companhia trabalha com cinco opções de plano, a partir de 60 reais. No ano que vem, os investimentos em expansão da companhia devem ultrapassar 10 milhões de reais. A ideia é operar em Brasília e em duas capitais do Sul: Curitiba e Porto Alegre.

Todas as áreas

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A sofisticação dos tratamentos veterinários tem gerado vagas não só para profissionais de saúde como também para as áreas de apoio (vendas e logística, por exemplo). Na MedMep, empresa especializada em terapia com células-tronco, isso aconteceu depois que, em 2015, a companhia mudou o foco do negócio e passou a oferecer tratamentos para animais, em vez de humanos. 

Como a aplicação leva 15 minutos, não exige anestesia e resolve problemas penosos, como a displasia – que pode impedir os cãezinhos de andar -, a procura pelo serviço tem aumentado, a despeito do alto valor do tratamento, que custa entre 1 000 e 8 000 reais.

Com 100 clínicas credenciadas em dez cidades espalhadas pelo Brasil, a MedMep dobra o faturamento a cada seis meses e, em menos de dois anos, trocou um escritório de 100 metros quadrados por outro de 600. “Começamos com uma pessoa no laboratório, hoje temos cinco. Em vendas, fomos de um para 12 funcionários e já somos quatro pessoas em logística”, diz Edson Lo Turco, veterinário responsável pela MedMep.

A rede de hospitais veterinários Pet Care, de São Paulo, também vem fazendo contratações nas mais diversas áreas. Em cinco anos, a empresa quadruplicou de tamanho ao oferecer atendimento 24 horas, exames de imagem, como tomografia, além de UTI e atendimento em dermatologia, odontologia, cardiologia, oncologia e neurologia. 

Hoje, ela atende 2 700 animais de pequeno porte por mês e emprega 250 pessoas. “Nos tornamos uma empresa enorme, com RH, mar­keting e reuniões de conselho. Nosso planejamento é chegar a 20 unidades em dez anos”, diz Carla Berl, diretora da Pet Care. Neste mês, a rede inaugura um centro especializado em oncologia na zona sul da capital, para o qual fez cinco contratações.

Especialização

Um levantamento inédito feito pela farmacêutica Zoetis mostrou, por exemplo, que apenas 8% dos veterinários no Brasil são dermatologistas e só 1% é oncologista. Para os especialistas em saúde pet, os veterinários especializados levarão vantagem nesse bom momento de seu mercado. 

No caso da médica veterinária Sibele Konno, de 38 anos, de São Paulo, foi o treinamento em atendimento de emergência nos Estados Unidos que fez a diferença. Nos cinco anos em que atua na rede de hospitais da Pet Care, ela já recebeu três promoções. A última foi em novembro: ela assumiu a coordenação geral de todas as unidades e teve um incremento de 30% na renda. 

Agora ela investe numa especialização de dois anos na área de medicina intensiva. “Hoje o veterinário precisa se especializar, inclusive porque os donos estão muito bem informados. Quando chegam aqui, já pesquisaram tudo sobre a doença no Google e nos cobram mais conhecimento”, afirma Sibele. Isso prova que a evolução do setor é um caminho sem volta. E que, para a sorte dos bichinhos e do mercado de trabalho, o segmento de saúde veterinária deve seguir caminhando na contramão da crise.

Cara de um, focinho do outro

Confira como os brasileiros agem e quanto gastam com seus animais, considerados por metade dos donos parte da família:

Investem em seus animais: donos de cães gastam, em média, 300 reais por mês; já os de gatos desembolsam 120 reais, em média

Tratam os pets como parte da família: metade dos donos de cães diz ter relação de pai e filho com o animal, o que explica o alto investimento em saúde animal

Estão mais permissivos: sete em cada dez cães ficam dentro de casa e 43% dos tutores os deixam dormir na cama

Preocupam-se mais com a saúde: 70% dos veterinários percebem que os tutores estão mais atentos aos avanços da medicina veterinária e à saúde de seus pets

Fontes: Abinpet e Zoetis

 

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 223 da revista Você S/A e pode conter informações desatualizadas

Você S/A | Edição 223 | Dezembro de 2016 

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