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Em busca do líder do futuro

Rajiv Ball, um dos professores da THNK, Escola de Liderança Criativa de Amsterdã, acredita que criatividade pode ser ensinada

Por Por Mariana Amaro
Atualizado em 17 dez 2019, 15h27 - Publicado em 17 set 2015, 15h00

SÃO PAULO – Entre os pré-requisitos para se candidatar a qualquer cargo – de estagiário a CEO – em praticamente todas as empresas, uma palavrinha é onipresente: criatividade. Com problemas novos e cada vez mais complexos, as empresas clamam por profissionais e, mais especificamente, líderes com criatividade. É isso que a THNK, Escola de Liderança Criativa de Amsterdã, pretende ensinar em seus cursos de até 18 meses – e em um de três dias que foi lecionado em São Paulo no final do mês passado, por 9 400 reais. Voltado para líderes corporativos e empreendedores, a escola é considerada pela Universidade de Stanford (onde nasceu a Coursera) como “o futuro da educação superior”. O indiano Rajiv Ball, responsável pelo currículo de liderança, pelos programas corporativos e pela abertura de novas unidades falou a VOCÊ SA sobre o método de ensino da THNK, o futuro da educação executiva, a diferença entre os tradicionais cursos de MBA e sobre os líderes do futuro. 

Na hora da contratação, as empresas exigem uma série de habilidades nos líderes que vão desde ser um bom gestor de conflitos até ter um perfil inspirador. Esses líderes realmente existem? As empresas não estão procurando executivos superheróis?

Pode ser, mas existem dois tipos de super líderes: aqueles com essas características inatas e aqueles que podem ter essas habilidades desenvolvidas. Não é para todo mundo, mas a maioria desses requisitos pode ser ensinado, desde falar várias línguas até ter inteligência emocional. 

Como é possível ensinar esse tipo de habilidade?

O primeiro passo é para “abrir a cabeça” é entender quais são os seus preconceitos e crenças e se propor a enfrentá-los. É muito mais confortável conviver com pessoas que pensam como nós. Aquele que pensa diferente, que questiona, é o chato. Pode ser doloroso trabalhar com pessoas com uma visão de mundo diferente da nossa, mas é justamente dessa convivência que saem as inovações. 

Quais são as diferenças de um curso de 18 meses da THNK para o curso de MBA que você leciona na Universidade de Berkeley, na California?

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São propostas completamente diferentes. Na THNK, a nossa ideia é transformar o indivíduo. Buscamos turmas heterogêneas: há executivos de grandes empresas junto com empreendedores e pessoas de diversas áreas do governo. Também não damos um diploma. Depois de 18 meses de curso, que custa 22 000 euros, os alunos não levam nada além do que aprenderam lá e dos contatos e conexões que criaram. Isso basta. Já bastou para mais de 1 300 pessoas que fizeram algum dos nossos cursos nos últimos três anos. Nesse ponto, somos bem diferentes dos MBAs tradicionais, que possuem salas com 70 pessoas de perfil relativamente parecido. São, em geral, profissionais corporativos na gerência junior ou média. O problema maior ainda é que os professores dos MBAs nasceram para dar palestras e são ótimos nisso. Na THNK, nossas aulas tem 35 pessoas com perfis mais variados no máximo, com dois ou três facilitadores. Queremos formar líderes que vão mudar o mundo.

Como, exatamente, um líder em uma corporação está fazendo bem para o mundo?

De diversas formas. A mais óbvia delas é que ela está contratando pessoas, dando a elas um objetivo de vida, a sensação de pertencimento, dinheiro e fazendo a economia girar. Essa pessoa também pode desenvolver um produto que ajude os consumidores. Nos últimos 10 anos as pessoas tem olhado para as empresas de uma forma enviesada, considerando que são vilãs, que poluem, que destroem. A verdade é que ser um gestor de pessoas pode ser uma profissão muito nobre.

O senhor acha então que a forma de ensino da THNK é o futuro da educação para gestores?

Acho que é uma possibilidade de futuro. Por exemplo: hoje a maioria das pessoas não tem telefone em casa, usa apenas o celular, que seria a inovação. Muita gente, no entanto, ainda enxerga valor nas linhas terrestres e isso não vai mudar. O MBA ainda tem muito valor – e terá por muito tempo. Na Berkeley, é simples. Os alunos que buscam esse tipo de MBA tem um objetivo direto: eles querem estudar, aprender, melhorar sua performance no trabalho e ganhar mais dinheiro. 

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Vocês dizem que o conceito de educação é com base em experiência extrema. Como funciona isso?

Enquanto os MBAs levam casos de 10, 15 anos atrás, quando o contexto econômico e social eram diferentes, levamos casos atuais. Atuais mesmo, problemas que as empresas estão passando naquele exato momento. E buscamos, junto com os alunos, as soluções para essas companhias que nos procuram com os seus casos. Um exemplo: levamos uma questão da Shell sobre mobilidade – como as pessoas vão se movimentar nos próximos anos. Essa é uma questão sobre o futuro que ainda não foi decidida. Não temos aulas de finanças, marketing, planejamento estratégico. Para os nossos alunos não ensinamos sobre balanço, focamos em construir conhecimento.   

O que podemos esperar dos líderes do futuro? Como eles serão?

Um conceito criado pelos militares, diz que há 20, 30 anos, o inimigo era certo. Hoje, ele pode estar em qualquer lugar. O mundo se tornou o que eles chamam de VUCA: volátil, incerto, complexo e ambíguo. Isso descreve também o ambiente de negócios. Os líderes do futuro vão ter que lidar com isso. É importante, portanto, que eles estejam preparados para essa situação. Eles precisarão agir com paixão e propósito, ter uma personalidade exploradora, sempre buscar e testar soluções novas, administrar times criativos e conduzir mudanças inovadoras em prol de um mundo melhor. 

Vocês também fazem cursos customizados, para companhias. Os que as empresas estão demandando de vocês?

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Na verdade, depende da empresa. Já trabalhamos com a Vodafone, a Booking.com, a Johnson&Johnson. Estamos fazendo um trabalho interessante – que acabou de começar – com a FIFA para o desenvolver mulheres e transformá-las em líderes do futebol. Hoje, o futebol é cercado por homens. No Brasil vocês conhecem bem disso. É, ainda, um esporte feito por homens para homens – o que é bastante retrógrado. Reunimos então 35 mulheres que são funcionárias da FIFA ou trabalham em federações de futebol espalhadas pelo mundo para ajudá-las a quebrar essa barreira do preconceito. O trabalho é baseado em encontros presenciais, coaching e mentoring. Esse programa vai criar uma estabilidade maior para as mulheres, aumentar o profissionalismo nesse setor e oferecer para as profissionais possibilidades de carreira mais tangíveis.Vamos ajudar nesse impacto positivo. 

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