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Trump tuíta e joga um balde de água fria nas bolsas

A menos de um mês das eleições americanas, presidente dos EUA faz chantagem política e barra novo pacote de ajuda econômica ao país.

Por Luciana Lima e Tássia Kastner
Atualizado em 9 out 2020, 16h22 - Publicado em 6 out 2020, 18h43

Desde que virou moda líderes mundiais governarem pelo Twitter, a gente espera uma coletânea com as 100 tuítadas que abalaram o mundo. Enquanto o best-seller dos nossos tempos não sai, testemunhamos a história rolando o feed. Como hoje, em que o presidente americano, Donald Trump, tuitou — e as bolsas despencaram.

Trump tá (mais ou menos) preso na Casa Branca enquanto se recupera da Covid-19. E bem chateado de ver pesquisas eleitorais mostrando larga vantagem ao rival democrata Joe Biden, sem poder reagir em seus comícios em busca de votos. 

E, já dizia nossa vó, cabeça vazia, oficina do diabo. Então ele foi ao Twitter ordenar que as negociações para um novo pacote de estímulos fiscais nos Estados Unidos fossem suspensas até as eleições. O balde de água fria que os mercados não esperavam. 

Na série de ataques, Trump escolheu como alvo Nancy Pelosi, porta-voz da Câmara dos Representantes americana (o que equivale ao nosso Rodrigo Maia). Disse que ela  estava pedindo US$ 2,4 trilhões para resgatar estados democratas mal administrados, dinheiro que não teria nada a ver com a Covid-19. E isso depois de ter negado U$S 1,6 trilhão que Trump havia oferecido de bom grado.  Quanta desfeita.

A saída para o impasse? Paralisar tudo até as eleições, no dia 03 de novembro. “Instruí meus representantes a pararem de negociar até depois da eleição, quando, imediatamente após eu ganhar, aprovaremos uma importante lei de estímulo que se concentra nos americanos trabalhadores e nas pequenas empresas”, escreveu ele. 

Segundo uma matéria da rede de TV CNBC, Trump havia realizado uma conferência por telefone com representantes do partido republicano minutos antes de anunciar a suspensão das negociações. Até então, o Chefe de Gabinete do governo, Mark Meadows, e o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, eram os responsáveis pela interlocução.  A mudança vem justamente após uma pesquisa da CNN apontar que Joe Biden estava 14 pontos à frente de Trump  na corrida presidencial, com 57% das intenções de voto. 

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Os tuítes do presidente norte-americano bagunçaram o mercado com razão. Enquanto ele adia a abertura do cofre, Jerome Powell, presidente do Fed, implora a democratas e republicanos que liberem dinheiro. Em pronunciamento para empresários dos EUA, Powell reiterou que o auxílio fiscal é “crucial para apoiar os americanos” e que “a recuperação será mais forte se política fiscal e econômica trabalharem juntas”. 

Lembrando: política fiscal é abrir o cofre, e quem faz são os políticos, enquanto política monetária é, grosso modo, baixar juros, imprimir moeda. E quem cuida dessa segunda parte lá nos Estados Unidos é o Fed.

Para reforçar sua posição de mensageiro do apocalipse, o representante do banco central deles também afirmou que, embora a recuperação da economia americana estivesse acontecendo mais rápido do que o esperado, a perspectiva ainda é “muito incerta”. 

Mas daí veio a chantagem de Trump, e o que era incerto se tornou ruim. Com uma nova rodada de investimentos descartada tão cedo, os investidores antecipam que a economia americana vai demorar mais para voltar aos trilhos. O resultado foi uma baixa em todos os índices de Wall Street, que passaram o dia no azul (ou verde, se quiser). Dow Jones caiu -1,34%, seguido por S&P 500 em  -1,40% e Nasdaq recuando outros -1,57%.

Isso é o que o mercado chama de volatilidade de período eleitoral. O Nobel de economia, Paul Krugman, foi um pouco mais duro na avaliação sobre a postura de Trump e as consequências possíveis para a economia.

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“Sabotando a economia, e ele ainda nem perdeu. Imagine o que vai acontecer quando (se – nada é certo) ele realmente perder e ainda tiver dois meses e meio para fazer estragos.” 

Bom, leitor, o que realmente dá para imaginar é que o salseiro nos mercados vai continuar, né?

Aqui no Brasil também, por óbvio. Os tuítes de Trump também esfriaram o nosso querido Ibov. Ele vinha acompanhando o exterior e tava animado com as notícias de Brasília. Tudo para, menos de uma hora antes do fim do pregão, entregar o lucro. A queda foi de -0,49%, a 95.615,03 pontos. 

Se a economia americana vai mal, todo mundo vai mal. Se o investidor estrangeiro tem medo, não é só do mercado americano. E aí não tem paz selada entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia que ajude a segurar a barra. 

E tem aquelas outras notícias domésticas que o mercado financeiro continua odiando. Por exemplo, adiar decisões econômicas por causa de eleições. 

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Depois de tanta briga e ameaças de pedaladas para bancar o Bolsa Família turbo, agora o assunto só volta para a mesa em dezembro. Foi o que noticiou o jornalista Valdo Cruz em seu blog no G1. Segundo a publicação, Bolsonaro teria dito a aliados que não decidiria sobre “medidas polêmicas” antes da eleição, para não atrapalhar os candidatos que ele apóia na corrida pelo pleito municipal. 

O problema é que continua não tendo de onde tirar dinheiro para o Renda Cidadã. Então antes de escorregar em uma nova pedalada ou tirar dinheiro de pobre para dar ao paupérrimo, melhor deixar passar o período eleitoral.

Melhor para a política, claro.

Bom, pelo menos Bolsonaro sepultou –por enquanto, claro — a piada da reforma que será enviada na próxima semana. 

PODE PIORAR

Um dos destaques (negativos) da sessão no Ibovespa foi a IRB Brasil. Como adiantamos há duas semanas, a resseguradora estava em fase de reabilitação após uma série de denúncias sobre fraude nos seus balanços. Entretanto, hoje foi dia de recaída. 

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A razão? Logo de manhã, o UBS, que agora é parceiro do Banco do Brasil, rebaixou a avaliação da empresa e recomendou que investidores se livrassem dos papéis. Segundo os analistas do UBS, embora a companhia que comercializa seguros para seguradoras (sim, você leu certo) esteja tentando superar seus problemas de governança, ainda levará algum tempo para que a resseguradora recupere sua credibilidade. Com isso, a IRB terminou o dia na lona, em uma baixa de impressionantes -17,11%.

Maiores altas

CVC Brasil: +9.33%

Gol: +7.30%

Azul: +6.50%

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Braskem: +4.51%

Ambev: +4.14%

Maiores baixas

IRB Brasil: -17.11%

Marfrig: -3.65%

B3: -3.56%

Minerva Foods: -3.52%

Natura:  -2.65%

Dólar: + 0,50%, a R$ 5,59,

Petróleo:

WTI: US$39.89 ( +1.71%)

Brent: US$ 41.93 (+1.55%)

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