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O empreendedor que soube dar uma lufada de ar fresco na educação

Fundador de seis startups, Felipe Barreiros usa educação prática para incentivar a capacitação em tecnologia.

Por Juliana Américo
Atualizado em 14 out 2020, 15h23 - Publicado em 14 out 2020, 09h00

Faltam profissionais de tecnologia no Brasil. Tanto que a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) estima que, em 2024, o setor pode apresentar um déficit de 290 mil profissionais. Para o paulistano Felipe Barreiros, de 31 anos, o problema está nos métodos de ensino. Por isso, e depois de passar a maior parte da sua vida acadêmica em recuperação, ele decidiu ajudar na capacitação de pessoas para o mercado de tecnologia de uma forma menos tradicional, e mais prática, com o uso de bootcamps (treinamentos intensivos) e maratonas de desenvolvimento de projetos.

O empreendedor já fundou seis startups; a Mastertech é a mais famosa. Criada em 2015, ela oferece cursos para a formação em tecnologia e foi premiada como startup de educação mais atraente pela 100 Open Startups, uma organização que avalia e classifica novas empresas, em 2018. Um ano depois, Felipe vendeu sua parte da Mastertech, que segue firme nas mãos da sócia-fundadora Camila Achutti, e hoje divide sua vida profissional em três frentes: na direção de sua nova empresa, a Vaivoa, que oferece cursos nas áreas de negócios digitais, liderança e desenvolvimento pessoal; no cargo de CPO na Zup Innovation, uma companhia de TI; e como membro do comitê de gestão da Eleven Financial Research, uma casa de análise de investimentos, onde auxilia em projetos de educação financeira.


Raio X do fundador

Qual “dor” você resolve?

Antigamente, eu responderia que é a falta de profissionais de tecnologia no mercado, só que é mais do que isso. É tentar superar essa falta de conexão entre a prática e a teoria que existe quando a gente fala de educação. Ao fazer um curso fora do país, por exemplo, você percebe que é tudo muito prático: como usar uma ferramenta, como criar um aplicativo. Então, a ideia é pensar em como desenvolver um ambiente de estudos mais participativo, no qual a gente transforma a educação em momentos de conquista.

Como teve a ideia do negócio?

Surgiu por causa da minha experiência pessoal. Eu nunca repeti de ano, mas fiquei de recuperação da terceira série do ensino fundamental até o terceiro colegial. Não gostava do modelo de ensino. Não era prático, e eu não sabia por que estava estudando Pitágoras ou Império Romano. Depois disso, quando eu estava com 19 anos, fiquei três meses em um processo de imersão na empresa em que trabalhava. Durante esse período, fui pago para estudar. Entendi a necessidade de criar coisas novas e pude refletir sobre todo o investimento em educação que os meus pais me deram. Foi quando percebi que, quanto mais eu me desenvolvia, mais eu conseguia ajudar as pessoas.

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Como começou a executar o negócio?

No início, errei bastante. Minha primeira startup era uma espécie de blog no Facebook para conhecer uma pessoa nova todos os dias. Depois eu lancei o canal Espiral do Conhecimento, e pedi demissão do trabalho em que estava. Foi muito difícil, porque eu morava em um apartamento de 50 metros quadrados, num lugar barulhento, e passava os dias gravando e publicando vídeo no YouTube. Foi nessa época que eu tive o meu primeiro aprendizado. Achava que sabia de tudo, até que participei de um evento e um cara detonou o meu negócio, falou que eu não tinha um modelo e não acompanhava os números certos. Na hora, eu fiquei bravo, mas depois de uns dias entendi o que ele falou. Foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar na FIAP com um projeto de ensino de programação para jovens. Eu acreditava muito no negócio, até que criei, junto com a minha sócia Camila Achutti, a Mastertech.

((Arte: Você S/A)/Você S/A)

Qual foi o melhor erro que você já cometeu?

Acho que o meu maior erro foi não ter cuidado da cultura da empresa. Quando você está empreendendo, acaba se preocupando muito com os números, crescimento, clientes e, às vezes, esquece que tem outras vidas envolvidas. Meu pai sempre me falou que, quando você contrata uma pessoa, está gerando um impacto social em mais três ou quatro familiares desse funcionário. Teve um momento no qual eu não dei atenção a isso, o que me causou dores de cabeça. Pode parecer balela, mas esse discurso de que pessoas são importantes para manter o negócio saudável é verdade.

Quais empreendedores, ou pessoas em geral, te inspiram?

Um deles é o Tony Robbins [um guru da autoajuda], porque ele não só consegue fazer seus negócios crescerem, como também sabe lidar com dinheiro. E isso é muito legal, porque ele sabe contribuir e multiplicar os resultados. Outro é o educador Eurípedes Barsanulfo. Ele viveu em Minas Gerais no início do século 20, e me inspira muito a revolução que ele provocou na educação na época [Eurípedes foi um dos defensores do ensino humanizado e laico em escolas públicas].

Qual foi o pior conselho sobre empreendedorismo que já recebeu? E o melhor?

O melhor foi um de que a linguagem do negócio é a contabilidade. Fala-se muito de tecnologia e programação, mas você precisa da contabilidade para tocar um negócio. E o pior conselho é o de que você sempre precisa levantar investimentos externos para crescer. Investimentos são bons, mas não são realmente necessários. Já teve situações em que fui falar com investidor só porque outros empreendedores estavam fazendo isso.

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