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Quer saber por que o dólar voltou a subir? Olhe para as commodities

Guerra na Ucrânia deu uma mãozinha para o câmbio. Mas a inflação que o conflito causou acabou com a festa.

Por Tássia Kastner
12 ago 2022, 06h41

O dólar começou 2022 valendo coisa de R$ 5,57. Quatro meses depois, mais precisamente no dia 4 de abril, estava na mínima do ano: R$ 4,60. Um tombo de 17%. Naquele mesmo 4 de abril, o preço do minério de ferro bateu a máxima do ano: US$ 161 por tonelada.

Não se trata de coincidência. Para entender as variações bruscas da moeda americana nos últimos tempos, o Brasil precisa olhar para as commodities. A gente importa verdinhas cada vez que exporta minério, petróleo, soja, milho… Se os preços deles sobem no mercado internacional, é mais moeda americana entrando no Brasil.

Em 2022, os preços das matérias-primas pareciam ter engatado a quinta marcha. Culpa da Rússia, que decidiu invadir a Ucrânia e desconjuntou a oferta global de commodities. Do país de Putin saía 8% da oferta global de combustível. Juntas, Rússia e Ucrânia respondiam por ⅓ das exportações de trigo para o mundo. A Ucrânia também vendia 17% do milho consumido no mundo. E foram cinco meses sem que a Rússia permitisse a saída de um único grão de cereal de lá. Além disso, os governos ocidentais tentaram limitar a compra da produção russa para asfixiar a guerra.

Janeiro e fevereiro já vinham com alta nos preços das commodities. Mas nada como a disparada de março, logo após a invasão. Naquele mês, o barril de petróleo havia escalado para US$ 128, e o trigo bateu a maior cotação desde 2012.

Só que a alta frenética dos produtos foi fogo de palha. O minério caiu quase 35% desde o pico. O petróleo, 14%. A soja baixou 20% e o trigo cedeu 40%.

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Assim como a alta, a reversão também foi tipo dominó: um por um. A soja, nosso principal produto agro, atingiu o pico em junho, bem depois do resto dos produtos, e já baixou 20% desde lá. O índice de commodities da Bloomberg também bateu a máxima do ano no fim do primeiro semestre, e caiu 11% desde então.

Existem duas explicações: a primeira é que o mundo aprendeu mais ou menos a conviver com a guerra que continua rolando lá no leste europeu. A segunda é que a alta de preços das commodities levou a um repique da inflação pelo mundo. Para conter a alta de preços, bancos centrais começaram a subir juros, o que desacelera a economia e eventualmente a demanda por matérias-primas – além de aumentar o apetite por dólares, o refúgio clássico em tempos de crise global.  

Bem, e o que aconteceu com o dólar? No fim de maio, ele começou a subir novamente e recuperou a faixa dos R$ 5. Uma parte disso veio da decisão do governo Bolsonaro de abrir os cofres para tentar ganhar votos na eleição. Mas nunca esqueça de olhar as commodities. Faça chuva ou faça sol, elas sempre apitam no câmbio. 

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