Continua após publicidade

Preocupação do Fed com a pandemia joga água fria no otimismo

Enquanto isso, na B3, Marfrig, JBS e Ultrapar se destacam com fortes altas em dia de baixa.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
Atualizado em 19 ago 2020, 20h33 - Publicado em 19 ago 2020, 18h38

A atenção do mercado esteve toda voltada para os EUA. O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, que é o Copom deles) liberou a ata de sua última reunião, e as previsões ali não são as melhores: os dirigentes do Fed (o Banco Central deles) demonstraram preocupação com a trajetória incerta da recuperação econômica global. 

Essa avaliação não passou despercebida pelos índices americanos. Todos caíram, de leve, mas caíram: o Nasdaq recuou 0,57% (11.146,46 pontos); S&P 500 viu uma queda de 0,44% (3.374,85 pontos); e a Dow Jones perdeu 0,31% (27.692,88 pontos).

Sobrou até para o Brasil – o pessoal do Fed disse entender que os juros baixos no Brasil foram os responsáveis pelas desvalorização do real em 5% entre junho e julho. A Selic a 2%m vale lembrar, é boa para a economia, já que juros baixos aumentam o consumo. Por outro lado, isso realmente complica o câmbio.

Uma Selic baixa torna menos atraente para os investidores estrangeiros comprarem títulos da dívida do governo, já que eles pagam pouco. Para comprar esses títulos, os investidores trazem dólares para cá e os trocam por reais. Com menos investidores desse tipo, menos dólares. E aí é oferta e demanda: com menos dólares na praça, o preço da moeda americana em reais sobe. Em outras palavras, o real cai. Não existe almoço grátis, afinal.

Além disso, as turbulências políticas que envolvem o governo Bolsonaro e a escalada desenfreada do coronavírus também garantiram mais espaço negativo ao Brasil no relatório. 

Se o dólar já estava ruim antes de tudo isso, agora piorou: a moeda americana está cotada a R$ 5,53 com alta de 1,16% – um patamar não era visto há quase dois meses, desde o dia 22 de maio.

Continua após a publicidade

O Ibovespa também cedeu. Depois de surpreender o mercado na terça-feira com alta de 2,48%, o índice foi atingido em cheio tanto pelas preocupações globais do Fed como  pelos conflitos dentro do governo para a definição do orçamento de 2021. A demanda por mais recursos em diferentes pastas, afinal, vem pressionando o teto de gastos. A bolsa já amanheceu em baixa, e fechou em 100.853 pontos (-1,19%). 

Menos pior: mais uma vez, a demanda da construção civil na China foi uma das boias que impediu o Ibovespa de afundar mais. Com a valorização de mais de 0,40% do minério de ferro, os papéis da Vale operaram em alta ao longo do dia – e fecharam numa baixa não muito gritante (-0,98%). 

Outra empresa que segurou um pouco a B3 foi a Marfrig. O frigorífico foi a maior alta do Ibovespa no dia (5,97%), ainda na esteira de seu balanço positivo. Destaque também para a Ultrapar. A dona dos postos Ipiranga acumulava poeira há um tempo, numa baixa eterna. Hoje ficou na vice-liderança (4,68%), graças a um acordo com a Pátria Investimentos – um tradicional fundo de private equity, que se tornou sócio da empresa. O terceiro lugar ficou com outro frigorífico de balanço forte, a JBS: 3,14%.  

Na outra ponta ficou a Sabesp. As ações da companhia de saneamento despencaram após o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), anunciar que empresa vai voltar ao programa de capitalização, além de prestar serviços de água e esgoto para outros Estados. A companhia chegou a registrar queda de 10,71% no período da manhã. As perdas foram controladas, mas não impediram a baixa de 3,87%. 

Já os acionistas da Tecnisa e Gafisa foram do céu ao inferno em poucas horas. Logo de manhã, os papéis das construtoras despontaram com a proposta não solicitada de integração de negócios. A Gafisa fez a proposta por meio do fundo Bergamo, do qual ela é a única cotista, e possui 3,1% do capital da Tecnisa. Esta, por sua vez, foi pega de surpresa e pretende convocar uma assembleia para avaliar o caso. Com isso, as ações da Tecnisa abriram em alta de 7%, enquanto a Gafisa registrava ganho de 3%. Depois de oscilações ao longo da quarta-feira, as negociações se encerraram em -3,38% e -4,71%, respectivamente. 

Continua após a publicidade

O petróleo, por sinal, vinha operando em alta, já que os estoques nos EUA recuaram em 1,6 milhões de barris. Mas, a ata do Fed levou o líquido preto a registrar uma leve baixa – o tipo Brent, que serve de referência global, recuou 0,20%, e o tipo WTI, referência nos EUA, fechou estável em -0,01%. Seguindo o movimento da commodity, a Petrobras começou o dia o dia bem (+1,6%), mas recuou e fechou em -0,42%.

O medo do Fed

De volta ao assunto que abre esta nota: a tal da reunião do Fomc aconteceu há um tempo. Foi nos dias 28 e 29 de julho. Essas reuniões, que contam com a participação de diretores do Fed, definem a taxa básica de juros da economia americana (a Selic deles). Isso eles divulgam logo depois do encontro. Os motivos para a decisão, porém, só saem algumas semanas depois. Na “ata do Fomc” (a ata do Copom deles). O conteúdo dessa ata deu medo nos mercados. Mas o que tinha lá de tão assustador ali? 

Foi a seguinte frase: “A crise de saúde vigente vai pesar muito sobre a atividade econômica (…) no curto prazo, e causar riscos consideráveis para a economia no médio prazo. (…). Então manteremos os juros entre zero e 0,25%.”

Ou seja: é só uma justificativa para manter os juros baixos diante da situação ruim. Até aí zero surpresa. O problema é a preocupação deles com “os riscos para o médio prazo” – que mostra uma visão mais pessimista do que o mercado esperava – e jogou um pouco de água fria no otimismo que tem reinado lá fora. 

Continua após a publicidade

Vida que segue. Para nós, brasileiros, o que chama mesmo a atenção é a capacidade das moedas fortes em manter seus juros em zero – ou abaixo disso, até – sem perder o brio. Que um dia o real chegue lá.   

Maiores altas

Marfrig: 5,97%

Ultrapar: 4,68%

JBS: 3,14%

Continua após a publicidade

Gerdau: 2,72%

Metalúrgica Gerdau (GOAU4): 2,35%

 

Maiores baixas

Cogna: -5,46%

Sabesp: -5,04%

Continua após a publicidade

IRB Brasil: -4,77%

Sulamérica: -4,23%

Lojas Renner: -3,75%

Publicidade