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Na zona do rebaixamento: o Brasil perdeu o grau de investimento de uma das principais agências

A queda da nota dada pelas agências de classificação de risco no Brasil tem tudo a ver com a sua carreira e o seu dinheiro

Por Mariana Amaro
Atualizado em 17 dez 2019, 15h27 - Publicado em 10 set 2015, 11h10

Na noite desta quarta-feira (9), a Standard & Poor’s, uma das principais agências de classificação de risco do mundo, tirou o nosso grau de investimento, uma espécie de nota dada pelas agências para a capacidade de um país de pagar suas dívidas externa e interna e honrar seus compromissos com os investidores. 

Ou seja, antes, até terça-feira, o Brasil era considerado um “bom pagador”. Agora já não é mais. 

A notícia fez o dólar subir e a esperança diminuir mas não foi nenhuma novidade, já que, ultimamente, os noticiários vinham repetindo que “há um grande risco de o Brasil perder o grau de investimento”. 

Para calcular a tal nota, agências como Moody’s e Standard & Poor’s analisam uma série de indicadores – de estabilidade política até quantidade de reservas internacionais. Desde 2008, o Brasil ostentava com orgulho o selo de bom pagador. 

Mas, diante da crise econômica e política, acabamos saindo desse seleto grupo dos países considerados seguros para o investimento. Entramos no temível “nível especulativo”, que sinaliza uma maior probabilidade de calote nos investidores. 

“Assim como num campeonato de futebol, estávamos na zona de rebaixamento”, diz Olivia Paganini, da Guide Investimentos, de São Paulo. 

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Diante da nota negativa, muita coisa vai mudar. Mas não será de uma hora para a outra. Isso porque a mera possibilidade de piora na nota de um país já estava prejudicando a atração de capital estrangeiro. 

“As empresas americanas não estavam esperando o Brasil ser rebaixado para vender seus títulos ou parar de mandar dinheiro”, diz Patrick Behr, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, FGV/EBAPE, no Rio de Janeiro. 

Esse quadro tem efeitos sobre o mercado de trabalho e as finanças pessoais, comprometendo, por exemplo, a geração de empregos e o custo dos empréstimos. Por isso, assim como no futebol, vale a pena entender esse adversário, para evitar que sua renda e sua carreira sofram as consequências do rebaixamento. 

Isso porque se já está ruim, pode ficar pior: a S&P não apenas retirou o nosso selo de bom pagador e nos mandou para a série B dos investimentos internacionais, ela disse ainda que o viés é negativo, ou seja, a nota pode piorar ainda mais. 

ESQUEMA TÁTICO

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Entenda como a perda, pelo Brasil, do grau de investimento pode afetar o seu bolso e os seus planos profissionais nos próximos meses – e como lidar com isso. 

Aumentos e promoções 

Quando um país é rebaixado, ele leva consigo a confiança dos investidores nas empresas que operam nele. Com isso, mesmo companhias que vão bem podem ver seus investimentos minguarem – um efeito que já é percebido. Segundo a agência de classificação de risco Austin Rating, só no primeiro semestre, as empresas brasileiras tiveram uma queda média de 2,2% em sua receita e de 50% em seu lucro líquido – o que tende a dificultar aumentos e promoções para quem trabalha nelas.

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Quem será afetado

funcionários que tinham promoções e aumentos prometidos podem ter essas movimentações congeladas. startups que aguardavam aportes terão de se contentar com valores menores. Com menos dinheiro dos investidores, deve-se intensificar sobre os profissionais a pressão por metas cada vez mais altas. 

Como contra-atacar

Será preciso ter mais paciência para progredir na carreira e se preparar para o aumento da cobrança por produtividade. Também será necessário enfrentar a suspensão de projetos e cortes de custos

Emprego 

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Os investimentos que jorraram no país em anos anteriores e aqueceram as indústrias de óleo e gás e construção civil já vêm chegando a conta-gotas. Em 2012, o Brasil ocupava o quarto lugar no ranking mundial de captação de investimento estrangeiro. Em 2014, caiu para a sexta posição. E o quadro pode piorar, já que muitas empresas americanas e europeias seguem normas que restringem aportes a países classificados com o grau especulativo, Um cenário que deve afetar ainda mais a geração de empregos.

Quem será afetado

Todos os trabalhadores são afetados, em maior ou menor grau, pela redução dos investimentos, que inibe a criação de novas vagas e as contratações.

Como contra-atacar

A competição pelas vagas disponíveis vai aumentar. “Para aproveitá-las, o profissional deverá buscar qualificação em áreas complementares à sua”, diz Luiz Alberto Machado, vice-diretor da faculdade de economia da FAAP, de São Paulo. Também será preciso se preparar financeiramente. “O ideal seria poupar o valor de um ano de salário”, diz. 

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Viagens e compras no exterior 

A saída de dólares do país, pelo corte de investimentos, tem impacto na variação cambial. Num ano em que já se projeta que o dólar chegue a 4 reais, esse efeito deve prejudicar ainda mais os planos de quem pretende fazer viagens internacionais ou compras no exterior. “Não acho que o câmbio vá explodir do dia para a noite, mas ele pode subir quando e se o Brasil perder o grau de investimento”, diz Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado, de São Paulo.

Quem será afetado

Qualquer brasileiro que precise comprar a moeda estrangeira ou pretenda gastar nela ao longo do ano.

Como contra-atacar

Se vai viajar para fora do país e não pode mudar os planos, o ideal é comprar dólar aos poucos, aproveitando as baixas ocasionais na cotação da moeda.

Empréstimos e investimentos 

Quando um país perde o grau de investimento, perde também o acesso a empréstimos internacionais com taxas de juros menores e prazos generosos. Para continuar a atrair os investidores, a autoridade monetária precisa aumentar os juros pagos a quem aplica no país. O problema é que o juro alto também encarece o custo do crédito para quem precisa tomar dinheiro emprestado. Em julho, a taxa média dos empréstimos no Brasil subiu pelo décimo mês seguido. Nos financiamentos para pessoa física, os juros chegaram a 143,55% ao ano. 

Quem será afetado

Quem toma dinheiro emprestado será afetado negativamente, porque sua dívida fica mais cara. Mas quem investir em aplicações atreladas aos juros pode tirar vantagem desse cenário. 

Como contra-atacar

Em geral, deve-se evitar os empréstimos. Se não for possível, a orientação é pesquisar opções de crédito com as menores taxas, como o crédito consignado. Para quem tem economias e pode aplicar, algumas boas pedidas são o CDB, os fundos DI, LFTs, LCIs e LCAs. Todos esses investimentos têm em comum o fato de terem sua remuneração atrelada à variação dos juros da economia.

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