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Fed desencana da inflação, e apimenta o roteiro do mercado

Fala de Powell prometendo juros baixos a qualquer custo cria um dia cheio de emoções, mas com final sem graça, com o Ibovespa em 0,0000000...

Por Monique Lima e Alexandre Versignassi
Atualizado em 27 ago 2020, 19h09 - Publicado em 27 ago 2020, 19h01

Os bastidores da política estão quem nem a programação da Globo: reprisando novela. Enquanto o drama Bolsonaro/Guedes não chega ao clímax, o Ibovespa segue andando de lado. Foi exatamente o que aconteceu hoje: uma bela zerada (0,00%).

Já a programação nos States foi inédita e cheia de reviravoltas. Pega a pipoca.

A primeira cena foi o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio anual de Jackson Hole, Wyoming. Ele anunciou o que chamou de “atualização robusta” na política monetária dos Estados Unidos. 

A promessa foi de manter os juros perto de zero por um bom tempo, haja o que houver. Anúncio de juro baixo para as bolsas é igual tacar bolinha para cachorro: os investidores correm atrás das ações com euforia.  

A alta foi puxada pelos bancos, com as possibilidades de mais financiamentos e empréstimos em geral. JP Morgan e Goldman Sachs agradecem: fecharam o dia em +3,29% e +1,41%, respectivamente. Mas, claro, a proposta tem um contraponto: uma flexibilidade perigosa em relação ao aumento da inflação

Antes, a meta de inflação era de 2% anuais. Funcionava assim: quando a inflação ameaçava passar dessa linha vermelha, vinha um aumento nos juros. A malandragem de Powell foi dizer que agora a ideia é buscar uma “média de 2%”, num período de tempo indeterminado. Isso significa o seguinte: está liberado passar de 2%. E mesmo que chegue em 3%, 4%, os juros vão seguir entre 0% e 0,25%, como estão hoje.  

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O problema é que a inflação já está subindo bem por lá. Em julho, a alta foi de 0,6% – a maior para um único mês desde 1991. Nos últimos 12 meses, a subida está em módicos 1,6%. Mas é óbvio: o viés é de alta. 

Powell disse que um pouco de inflação não dói, e que a prioridade é injetar dinheiro na economia para criar empregos. Legal. Quem mora no Brasil, porém, sabe que uma inflação pode até parecer inofensiva mas, quando você vai ver, ela já te dominou. Te dominou. E o valor da sua moeda vai para as cucuias.

Que o esquema do Fed funcione. Brasileiros, como nós, também têm o costume de torcer para que planos econômicos mirabolantes dêem certo. Não falta quem aposte a favor do banco central americano, aliás. Mesmo com a ameaça de desvalorização, o dólar fechou em ligeira alta diante do euro e do iene. 

Já por aqui o dólar caiu, olha só. Fechou em -0,66%, a R$ 5,57 – provavelmente porque já tinha subido demais ontem.  

No começo do dia, os índices americanos estavam subindo bem: S&P 500 em +0,43%, Dow Jones em +0,83% e Nasdaq em +0,23%.  Não só pelo discurso do Jerome Powell. Outro motivo de alegria foi a revisão da queda do PIB no terceiro trimestre. Os primeiros números mostravam uma queda de 32,9% em termos anualizados. Revisaram, e corrigiram para baixo: 31,7% anualizados. 

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Nota: os americanos são meio loucos na hora de divulgar PIB. Em vez de fazer como o resto do mundo, e dar a queda no trimestre, eles insistem nesse “anualizado”. Bom, em valores normais, o que tivemos foi uma queda de 8% no trimestre – em linha com o que ocorreu no resto do planeta, naturalmente.  

Também rolaram os números nos pedidos de seguro-desemprego. Desta vez, normal: deu 1 milhão cravado de novos desempregados – dentro das expectativas.

Mas eis que veio uma reviravolta negativa. 

Obra das Big Techs, que finalmente fecharam em baixa: Facebook, -3.52%; Amazon, -1.22%; Apple: -1.20%; Google, -0,95%, depois de altas brutais ontem – e no ano todo. Uma hora alguém tem de realizar lucros nessa vida, afinal. 

O movimento de venda dessas ações hipervalorizadas pressionou os índices para baixo. E o filme terminou com o S&P 500 em +0,17%, e o Nasdaq Composite em -0,34%.

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Depois de um blockbuster, voltemos ao melodrama. 

O dilema de acompanhar os índices americanos e ficar, ao mesmo tempo, preso com a preocupação fiscal daqui acompanhou o Ibovespa por todo o dia. Teve picos de alta e baixa próximos de 1%. No fim do episódio, nenhuma prevaleceu. Fechou naquele zero absoluto. 

As maiores altas ficaram por conta da aparição especial do governador de São Paulo, João Dória, que num momento de mediunidade, previu que as vacinas contra a Covid-19 estarão disponíveis no Sistema Único de Saúde em dezembro deste ano. 

Quem comprou a previsão, voou. E ganhou com as altas da GOL (+4,27%), Azul (+3,61%) e CVC (+1,17%). É muita aposta na volta do turismo. 

Entre as baixas, destaque negativo para a BR Distribuidora. A Petrobras decidiu vender os 37% que ainda detinha na companhia – que é um spin off da estatal. Com isso, as ações da BR amargaram uma baixa de -3,27%. Ela só perdeu para a Yduqs, de educação, que tombou 7,48% após divulgar seu prejuízo de R$ 79,5 milhões no segundo trimestre, ante um lucro de R$ 194,8 milhões no 2T19. 

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E agora, as cenas dos próximos capítulos: a nova proposta do Renda Brasil está prevista para chegar amanhã. Ficamos no aguardo para ver qual será o novo plot twist, porque o roteirista desse governo tem caprichado.     

 

MAIORES ALTAS 

GOL 4.27%

Azul 3.61%

BTG Pactual 2.64%

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Companhia Siderúrgica Nacional 2.32%

Bradesco 2.08%

 

MAIORES BAIXAS 

YDUQS -7.48%

BR Distribuidora   -3.27%

Minerva -2,51%

Ecorodovias -2.45%

CCR -2.40%

 

Petróleo

Brent: – 1,21%, a US$ 45,09 o barril

WTI: – 0,81%, a US$ 43,04 o barril

Dólar: -0,66%, a R$ 5,57

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