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Este best-seller traz segredos do mundo dos investimentos

Leia um trecho publicado com exclusividade por VOCÊ S/A do livro "O Investidor de bom senso", de John C. Bogle

Por da Redação
Atualizado em 25 ago 2020, 09h42 - Publicado em 24 ago 2020, 07h51

John C. Bogle foi um filantropo e fundador do Vanguard Mutual Fund Group, uma das maiores consultorias de investimentos americana. É de sua autoria um dos grandes best-sellers de finanças, O Investidor de Bom Senso, que foi lançado pela primeira vez em 2007 e fez sucesso nos Estados Unidos, com mais de 20.000 exemplares vendidos.

Dez anos depois, o livro voltou às prateleiras numa edição ampliada e revista que chega ao Brasil com notas sobre o mercado financeiro brasileiro. Leia um trecho publicado com exclusividade por VOCÊ S/A.


CAPÍTULO 1 — UMA PARÁBOLA

A família Gotrocks

Era uma vez… uma família rica de sobrenome Gotrocks. A família aumentou no decorrer das gerações até ter milhares de irmãos, irmãs, tias, tios, primas e primos, e possuía 100% de todas as ações nos Estados Unidos. A cada ano, colhia as recompensas dos investimentos: todo o crescimento dos lucros gerados por milhares de empresas e todos os dividendos que elas distribuíam. Cada membro da família enriquecia no mesmo ritmo e tudo era harmonioso. Seu investimento aumentava ao longo das décadas, criando enorme riqueza. A família Gotrocks estava jogando um jogo de vencedor.

Mas, após um tempo, uns poucos “Helpers” — que vamos chamar aqui de Auxiliares — com poder de persuasão entram em cena e persuadem alguns primos Go­trocks “espertos” de que podem ganhar uma parcela maior que a dos parentes. Esses Auxiliares convencem os primos a venderem suas ações de algumas das empresas para outros membros da família e, em troca, comprarem deles ações de outras empresas. Eles cuidam das transações e, como corretores, recebem comissões por esses serviços. A propriedade é assim redistribuída entre os membros da família. Para sua surpresa, porém, a riqueza da família começa a crescer num ritmo mais lento. Por quê? Porque parte do retorno do investimento agora é consumida pelos Auxiliares e a parcela da família do generoso bolo que as empresas americanas assam a cada ano — todos os dividendos pagos, todos os lucros reinvestidos nos negócios —, que era de 100% no início, começa a diminuir.

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Para piorar ainda mais as coisas, além dos impostos que a família sempre pagou sobre os dividendos, alguns de seus membros agora estão pagando também impostos sobre ganhos de capital. Suas constantes permutas de ações geram impostos sobre ganhos de capital, reduzindo ainda mais a riqueza total da família.

Os primos espertos logo percebem que seu plano, na verdade, reduziu a taxa de crescimento da riqueza da família. Eles reconhecem que sua incursão na escolha de ações foi um fracasso e concluem que precisam de auxílio profissional a fim de escolherem melhor as ações certas. Assim, contratam especialistas em escolher ações — mais Auxiliares! — para obterem uma vantagem. Esses administradores de dinheiro cobram taxas por esses serviços. Assim, quando a família avalia sua riqueza um ano depois, constata que sua fatia do bolo diminuiu ainda mais.

(Arte/VOCÊ S/A)

Para piorar ainda mais as coisas, os novos administradores sentem-se compelidos a ganhar seu quinhão transacionando as ações da família em níveis frenéticos de atividade, não apenas aumentando as comissões de corretagem pagas ao primeiro conjunto de Auxiliares mas aumentando a conta dos impostos também. Agora a antiga parcela da família de 100% do bolo dos dividendos e dos lucros reinvestidos diminuiu ainda mais.

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“Bem, nós fracassamos em escolher boas ações e, quando não funcionou, também fracassamos em escolher administradores capazes de fazer isso”, dizem os primos espertos. “O que faremos?” Não se intimidando com os dois fracassos anteriores, eles decidem contratar ainda mais Auxiliares. Eles atraem os melhores consultores de investimentos e planejadores financeiros que conseguem achar para aconselhá-los na seleção dos administradores certos, que com certeza escolherão as ações certas. Claro que os consultores dizem que conseguem dar conta do recado. “É só nos pagar uma taxa por nossos serviços”, garantem os novos Auxiliares aos primos, “e tudo dará certo”. Infelizmente, com todos esses custos adicionais, a fatia do bolo que chega às mãos da família volta a despencar.

Alarmada, enfim, a família se reúne e analisa os acontecimentos ocorridos desde que alguns deles começaram a tentar passar a perna nos outros. “Como é possível”, perguntam, “que nossa parcela original de 100% do bolo — composta a cada ano de tantos dividendos e lucros reinvestidos — tenha caído para apenas 60%?”. Seu membro mais sábio, um tio ancião, responde tranquilamente: “Todo aquele dinheiro que vocês pagaram aos Auxiliares e todos aqueles impostos extras desnecessários que estão pagando vem direto do total de lucros reinvestidos e dividendos de nossa família. Voltem à estaca zero imediatamente. Livrem-se de todos os seus corretores. Livrem-se de todos os seus administradores de dinheiro. Livrem-se de todos os seus consultores. Assim nossa família voltará a colher 100% do bolo, qualquer que seja seu tamanho, que as empresas assam para nós ano após ano”.

Eles seguiram o sábio conselho do velho tio, retornando à estratégia original passiva, mas produtiva, mantendo todas as ações das empresas americanas e fincando o pé.

Exatamente o que um fundo de índice faz.

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… e a família Gotrocks viveu feliz para sempre.

Acrescentando uma quarta lei às três leis do movimento de Sir Isaac Newton, o inimitável Warren Buffett expressa a moral dessa história nos seguintes termos: para os investidores como um todo, os retornos diminuem conforme aumenta o movimento.

Por mais exata que seja essa afirmação enigmática, eu acrescentaria que a parábola reflete o conflito de interesses profundo entre aqueles que trabalham no setor de investimentos e aqueles que investem em ações e títulos de dívida. O caminho até a riqueza para aqueles no negócio é persuadir seus clientes: “Não fique aí parado. Faça algo”. Mas o caminho até a riqueza para seus clientes como um todo é seguir a máxima oposta: “Não faça algo. Fique aí parado”. Pois essa é a única forma de evitar o jogo de perdedor de tentar superar o mercado.

Quando um negócio é realizado de uma forma que desafia diretamente os interesses de seus clientes no conjunto, é uma questão de tempo até que os clientes despertem para a realidade. Aí a mudança vem — e essa mudança está impulsionando a revolução no sistema financeiro americano atualmente.

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A moral da história dos Gotrocks: o investimento de sucesso consiste em possuir empresas e colher as enormes recompensas proporcionadas pelos dividendos e pelo crescimento das empresas. Quanto maior o nível de sua atividade de investimentos, maior o custo da intermediação financeira e dos impostos, e menor o retorno líquido que os acionistas — como um grupo, os proprietários das empresas americanas — recebem. Quanto menores os custos contraídos pelos investidores como um grupo, maiores as recompensas colhidas. Assim, para desfrutar os retornos vitoriosos gerados pelas empresas no longo prazo, o investidor inteligente reduzirá ao mínimo possível os custos de intermediação financeira. É o que o bom senso nos informa. É nisso que consiste a indexação. E é essa a mensagem central deste livro.

(Arte/VOCÊ S/A)

Não acredite apenas em mim

Ouça Jack R. Meyer, ex-presidente da Harvard Management Company, o mago notadamente bem-sucedido que triplicou o fundo de doações da Universidade Harvard de 8 bilhões de dólares para 27 bilhões. Eis o que ele tinha a dizer em uma entrevista de 2004 à Business Week: “O negócio dos investimentos é uma fraude gigantesca. A maioria das pessoas pensa que consegue achar administradores capazes de apresentar um desempenho superior, mas a maioria delas está errada. Eu digo que de 85% a 90% dos administradores não conseguem atingir seus benchmarks. Como os administradores têm taxas e arcam com custos de transações, você sabe que no todo eles estão minimizando o valor”.

Quando indagado se investidores privados podem tirar alguma lição do que Harvard faz, Meyer respondeu: “Sim. Primeiro, diversifique. Crie uma carteira que cubra várias classes de ativos. Segundo, é preciso manter as taxas baixas. O que significa evitar os fundos mais badalados, mas caros, em favor de fundos de índice de baixo custo. E, por fim, invista a longo prazo. [Os investidores] deveriam simplesmente ter fundos de índice para manter suas taxas baixas e seus impostos reduzidos. Não há dúvida quanto a isso”.

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Em termos um pouco menos incisivos, o professor de Princeton Burton G. Malkiel, autor de A Random Walk Down Wall Street (“Um passeio alea­tório por Wall Street”), expressa esses pontos de vista: “Os fundos de índice têm produzido regularmente taxas de retorno [anuais] que superam as dos administradores ativos em quase 2 pontos percentuais. A administração ativa como um todo não consegue obter retornos brutos acima do mercado como um todo e, portanto, precisa, em média, reduzir o montante das despesas e dos custos de transações de seus índices.

A experiência mostra conclusivamente que compradores de fundos de índice tendem a obter resultados acima daqueles dos administradores de fundos típicos, cujas altas taxas de consultoria e substancial rotatividade da carteira tendem a reduzir os rendimentos dos investimentos. […] O fundo de índice é um método sensato e útil para obter a taxa de retorno do mercado sem absolutamente nenhum esforço e com despesas mínimas.”

(Vanguard/Divulgação/VOCÊ S/A)

 

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(Arte/VOCÊ S/A)
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