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Rigoroso e fascinante: como é o treinamento dos comissários de bordo

Antes de toda essa pandemia, a VOCÊ S/A foi conhecer o centro de treinamento de comissários de bordo e pilotos da Latam

Por Juliana Américo
Atualizado em 25 mar 2020, 14h02 - Publicado em 24 mar 2020, 15h00

 Se a profissão de comissário de bordo já estava listada como uma das mais estressantes por causa da longa jornada e das condições de trabalho, a crise do coronavírus certamente adicionou alguns muitos pontos na escala. No entanto, com um piso salarial de R$ 2.277,43 – segundo a convenção coletiva 2019/2010 do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) e do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA), a profissão exerce fascínio.  Tradicionalmente a procura é grande: nas companhias aéreas Azul e Latam, a taxa média é de 10 e 18 candidatos por vaga, respectivamente. Ou seja, a cada 500 vagas de emprego abertas, era possível esperar uma concorrência de 5 mil a 9 mil profissionais.  

Por conta da alta demanda e também pela complexidade das atividades (esqueça a ideia de que os comissários só servem para servir café, eles são treinados em primeiros-socorros, auxiliam no funcionamento da aeronave e até são preparados para controlar momentos de crise), o processo seletivo não é simples. 

Na Azul, por exemplo, o processo seletivo é composto por três etapas: a de provas teóricas e entrevista online; entrevista presencial e avaliação do segundo idioma; e a de exames toxicológicos e clínicos.

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Já na Latam, o candidato passa por cinco etapas que se dividem entre as provas online teóricas e de idiomas; entrevistas presenciais com o RH e responsável pela área de comissários; além dos exames psicológico, médico e toxicológico.  Em ambas as empresas, a seleção leva em torno de 40 dias. 

O que é preciso para ser comissário?

Apesar de não exigir curso superior, é preciso ter o Certificado de Habilitação Técnica. Ou seja, é necessário realizar um curso de formação de comissários de bordo em uma escola de aviação homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Em geral, o curso dura em média cinco meses e conta com aulas teóricas e práticas sobre legislação e regulamentação do setor aéreo, primeiros socorros, meteorologia, combate ao fogo, sobrevivência na selva e no mar, além de segurança da aeronave. 

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Os interessados ainda precisam possuir o Certificado Médico Aeronáutico (CMA) de 2ª classe, que avalia a aptidão física e mental. As companhias aéreas ainda exigem um segundo idioma, com preferência ao inglês e espanhol. 

Treinamento

Depois de admitido em uma empresa, o comissário ainda passa por uma série de treinamentos para conhecer as aeronaves utilizadas pela companhia. Todos os funcionários que trabalham na parte aérea (pilotos, comissários e equipes de aeroportos) precisam passar por cursos de reciclagem que podem ter prazo de validade de um a três anos. 

A convite da companhia aérea Latam, a equipe de VOCÊ S/A foi conhecer a Academia de Treinamento de comissários de bordo e pilotos da empresa, localizado na cidade de São Paulo. O local, de 9 mil m², recebe diariamente turmas de comissários, pilotos e equipes de aeroportos para fazer diferentes tipos de treinamentos – no Brasil, são 20 mil funcionários, sendo 5 mil comissários, 2.500 pilotos e 8 mil equipes de aeroportos e rampas; os demais são da área administrativa. 

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A empresa ainda conta com um Centro de Manutenção de Linha, localizado no Aeroporto de Guarulhos, com 16 salas de aulas construídas para atividades de treinamento teórico.

O espaço tem instalações com piscina para treinamento de sobrevivência em alto mar, sala de fumaça, avião para treinamentos de evacuação, simuladores de voo, entre outros para os treinamentos práticos de combate ao fogo, sobrevivência na selva e modelos de portas.

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As turmas, compostas em torno de 25 pessoas, são ministrados por tripulantes ou ex-tripulantes. Para se tornar professor na academia é necessário ter mais de cinco anos de casa e dois anos como chefe do serviço de bordo – cargo máximo entre os comissários. Uma parte da equipe ainda são avaliadores autorizados pela ANAC para aplicação de provas. 

Durante a visita, estavam passando pelo treinamento os recém-contratados, que precisam realizar 62 dias de treinamento antes de assumirem os seus postos nas aeronaves. Ao longo dos dias os novatos recebem aulas de primeiros-socorros, aulas de jiu-jitsu e krav maga para aprender técnica de imobilização, caso se deparem com passageiros violentos e abertura de portas dos modelos de aeronaves das companhias. Os simuladores de porta permitem que a equipe os funcionários recriem diferentes cenários, como abertura no aeroporto ou em situação de incêndio.

Já no treinamento de evacuação participam pilotos e comissários. Eles recebem um briefing de uma situação de emergência e precisam realizar todos os protocolos padrão de segurança até a retirada de todos os passageiros do avião dentro do tempo estipulado. 

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Depois disso, a equipe vai para a água. É na piscina que eles aprendem sobre marinharia, como manter os passageiros e tripulação unida e aquecida em alto-mar, kit salva-vidas, embarque no bote e captação de água potável. 

A equipe também tem aulas sobre sobrevivência na selva na área externa da academia e resgate durante um incêndio. No final dos treinamentos, os funcionários passam por uma avaliação de competência, realizada junto com os comissários avaliadores da ANAC, e em caso de reprovação, é necessário passar por todo o treinamento novamente. 

O RH ainda oferece treinamentos online, voltados para a parte comportamental, como empatia, relação com os clientes e liderança. 

Veja as fotos da visita: 

 

* VOCÊ S/A entrou em contato com a companhia aérea Gol, mas a empresa optou por não participar da matéria. 

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