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Se seu chefe faz isto ele está negligenciando você

Em tempos de crise, muitos líderes deixam a gestão de pessoas de lado. Identifique os sinais desse descuido e o que fazer para revertê-lo

Por Caroline Marino
Atualizado em 23 dez 2019, 13h25 - Publicado em 6 fev 2018, 16h00

Os reflexos da crise não são notados apenas na inflação alta, no aumento do desemprego e nas dívidas a perder de vista. Quem está trabalhando também sente o peso desse cenário em ações do dia a dia. Uma delas é o fato de que, pressionados para entregar resultados, muitos chefes passam a negligenciar aspectos de gestão de pessoas (como feedbacks, clima organizacional e treinamentos) e olham apenas para o que gera benefícios imediatos para a empresa.

Em alguns casos, o “como fazer” passa a dar lugar para o “fazer a qualquer custo”. “Organizações que antes tinham times grandes passaram a contar com poucas pessoas, que precisam em pouco tempo aprender a função de quase a equipe inteira”, diz Rafael Souto, presidente da Produtive, consultoria de planejamento e transição de carreira, de São Paulo. Nesses casos, a pressão por resultados fica ainda maior e, claro, a qualidade da gestão cai. VOCÊ S/A conversou com consultores de RH para identificar os sinais de que isso está acontecendo e o que você pode fazer para reverter o quadro.

Índicios de que o gestor anda distante de sua equipe

Mais controle, menos autonomia

Antes, havia autonomia e liberdade para a equipe. Agora, o chefe passa o tempo todo apenas cobrando as tarefas e os resultados, sem se preocupar com as condições de como as atividades serão desenvolvidas. “Isso acontece quando as lideranças passam a se concentrar naquilo que é exclusivamente voltado para o curto prazo, negligenciando outros elementos importantes da gestão, como os funcionários”, diz Rubens Prata, CEO da Stato, consultoria de recolocação profissional, de São Paulo.

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Pouco alinhamento

Você percebe que faz mais de um mês que não há reuniões de equipe nem feedbacks. Com menos tempo dedicado a entender os anseios dos funcionários, criam-se o distanciamento e a perda do compromisso — o que acaba se refletindo no resultado e na produtividade. Se a percepção geral é a de que é necessário apenas executar o que o chefe determina, a proatividade e a inovação diminuem drasticamente.

Só números

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As reuniões, que antes englobavam todo o processo de um projeto, passam a se resumir a números e a resultados e deixam de lado a preocupação mais com o progresso da atividade e com a possibilidade de que alguém esteja com dificuldade em alguma etapa. “Se você trouxe o resultado, não importa como fez isso, se lhe causou noites sem dormir, por exemplo”, diz Silvana Mello, diretora de desenvolvimento de talentos da Lee Hecht Harrison, consultoria de São Paulo.

Surpresa quando algo dá errado

Não importa se foi um problema pequeno ou de grande proporção: quando surge um erro, o líder se mostra surpreso e não sabe dizer como aquilo aconteceu em sua gestão. “Esse é um sinal claro de que o chefe deixou a equipe de lado”, diz Eliana Dutra, CEO da ProFitCoach, consultoria de carreira do Rio de Janeiro. Quando um chefe acompanha seu time, com feedbacks frequentes das atividades, nada o pega de surpresa.

Faltas constantes

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Você percebe que muitos de seus colegas de trabalho (você, inclusive) têm faltado por problemas de saúde, como crises de enxaqueca, resfriados e gastrite. Além disso, nota que as pessoas estão sonolentas ou cansadas quando estão no trabalho e, nas conversas de corredor, ouve relatos de insônia ou noite maldormidas. “Se a saúde vai mal, é um alerta vermelho”, afirma Rafael. Muitas vezes, isso não acontece apenas com a equipe. Repare se o próprio gestor aponta sinais de cansaço, pois ele também está assumindo mais funções e vive sob pressão. Olhar para o estado dele é essencial para que você consiga reverter a situação.

Ambiente pesado

O clima organizacional já não é o mesmo: o líder só cobra e dá menos condições para os subordinados executarem suas tarefas. “O nível de estresse aumenta e faz com que os funcionários operem no piloto automático”, diz Rafael. E o pior é que, nesses momentos de crise, o turnover costuma se manter baixo, pois os profissionais têm receio de pedir demissão e não se recolocarem, mas a falta de engajamento contamina o ambiente inteiro.

Nada parece o bastante

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Por mais que você trabalhe, está sempre com aquela sensação de que deve algo e a tensão aumenta muito. Essa sensação mexe com a autoestima de todo o time, que passa a se sentir desvalorizado e sem vontade de trabalhar — um sinal disso é quando o clima pesa no momento que o chefe coloca os pés no escritório. “Você não quer nem confrontá-lo para tentar mudar a situação. A chegada dele à empresa passa a ser um fardo e não algo bom como era alguns meses atrás”, diz Roberto Aylmer, professor na Fundação Dom Cabral, do Rio de Janeiro.

O que você pode fazer para mudar a situação

Inicie a conversa

Ao perceber uma brecha, sugira uma conversa de alinhamento. Muitas vezes, o líder nem se deu conta de que mudou de comportamento, e é importante que alguém lhe mostre o outro lado. Fale que percebeu uma mudança na gestão e dê exemplos recentes — dos últimos três meses, por exemplo. Não se trata de um confronto, é essencial deixar isso claro. Líderes maduros entendem que apenas feedbacks sinceros são capazes de melhorar uma situação.

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Reforce a importância do longo prazo

Na hora de falar com o chefe, diga que você entende que o nível de pressão sobre os resultados é grande, mas mostre quanto o olhar para o curto prazo pode ser ruim para o negócio. Eleja, por exemplo, um ou dois projetos que poderiam ter rendido resultados melhores se houvesse mais tempo e mais olhar para as pessoas. “É normal as lideranças se concentrarem naquilo que é exclusivamente voltado para o curto prazo devido à pressão, mas é essencial lembrá-las que o longo prazo é vital para o negócio e para os talentos permanecerem na empresa”, diz Rubens, da Stato.

Ofereça ajuda

Mostre-se preocupado com a situação da empresa e se disponha a ajudar o gestor a mudar o cenário. “Entenda quais são as prioridades do momento para se concentrar no que é mais importante”, afirma Rubens, da Stato. Combinar prazos e metas com o restante da equipe e auxiliar no monitoramento dos resultados também são ações importantes, pois mostram que você está comprometido com os resultados.

Mostre alternativas

Em épocas mais difíceis, os gestores têm poucas ferramentas para recompensar a equipe. Mostre ao líder algumas alternativas simples que poderiam melhorar o clima da equipe — pode ser a implementação dohome office em um dia da semana, a criação de um calendário para bate-papos com o time ou a possibilidade de realizar algum curso. “Sugerir que os resultados sejam comemorados com uma happy hour, por exemplo, é uma ação interessante de incentivo”, diz Rubens.

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