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Mude seus horários, mude sua vida: como a medicina indiana pode te ajudar

Em novo livro, o Doutor Suhas Kshirsagar explica como a medicina ayurvética, de tradição indiana, pode melhorar a sua rotina pessoal e de trabalho

Por Redação
Atualizado em 22 mar 2020, 10h00 - Publicado em 22 mar 2020, 10h00

Na tradução do sânscrito, a palavra ayurveda significa “ciência da vida” — e é um conceito muito usado nos estudos de medicina indiana. Os ensinamentos da prática costumam ser difundidos para outros países por meio de médicos especializados, como Suhas Kshirsagar.

Doutor pela Universidade de Pune, na Índia, ele é diretor de uma clínica de terapias integrativas na Califórnia e palestrante que roda o mundo. Além disso, é escritor de diversos livros e, em sua nova obra, Mude Seus Horários, Mude Sua Vida, ele revela quais são os benefícios de alinhar a rotina às necessidades naturais do corpo.

No trecho a seguir, publicado com exclusividade por VOCÊ S/A, Suhas explica a importância do ciclo ayurvédico.

TRECHO DO LIVRO

Capítulo 2 – O relógio biológico

O que você faz a cada hora do dia?

Essa é a primeira pergunta que faço a quem vem a meu consultório. Muita gente não sabe o que faz num dia normal — e isso pode acontecer com você também. Você sabe quando o despertador toca de manhã e quantas horas passa trabalhando, mas talvez não saiba a que horas costuma fazer as refeições diariamente. Não sabe quando geralmente adormece, mesmo que saiba a que programas de televisão assiste à noite. É fácil supor que seu horário de trabalho dita quando você come, quanto você descansa e quando se exercita. Ao fazer isso, você deixa de dar ao organismo os sinais previsíveis de que ele precisa para funcionar com eficiência.

Se em alguns dias você almoça às 11h30 e em outros às 13h30, seu corpo já fica confuso. Se permanece acordado até tarde em algumas noites para terminar uma tarefa ou malhar, seu corpo não sabe quando nem como se preparar para dormir.

Para entender como seus horários estão afetando sua saúde, primeiro é preciso saber quais são esses horários. Em segundo lugar, você precisa fazer a si mesmo duas indagações básicas: 1) estou obtendo sete horas de sono ininterrupto quando está escuro lá fora? e 2) estou fazendo quase todas as refeições quando está claro lá fora? A maioria das pessoas não responde sim a ambas as perguntas — e isso é um problema.

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Rory, um de meus pacientes, é um bom exemplo do impacto que os horários têm sobre o bem-estar geral. Desenvolvedor de software no Vale do Silício, com filhos pequenos, Rory conseguia fazer todas as coisas “certas”: exercitava-se diariamente, seguia uma alimentação rica em proteínas e pobre em calorias, com muitos legumes e verduras, e até tinha tempo para a família. Mas, apesar das escolhas que ele considerava saudáveis no contexto de um emprego exigente, as dores de estômago estavam ficando mais incômodas e ele tinha dificuldade para adormecer antes das 2 horas ou 2h30. Nas noites em que conseguia dormir, acordava por volta das 4 horas com ansiedade e dor.

Quando começamos a conversar não só sobre o que ele fazia mas sobre quando fazia, o resto do quebra-cabeça se encaixou. Rory descreveu um dia típico em que se levantava para trabalhar às 7 horas. Como em geral não sentia fome de manhã, costumava tomar um café para se segurar até o shake de proteína que consumia depois do treino na academia, às 13 horas. Ia para casa no fim da tarde para ficar com a mulher e os filhos, e eles jantavam por volta das 20 horas. Depois que as crianças iam dormir, ele preparava um bule de café e ficava acordado pelo menos até meia-noite — às vezes, até bem mais tarde — para trabalhar num projeto especial em cooperação com outros desenvolvedores que ficavam na Índia.

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Como a maioria das pessoas, Rory não fazia ideia de que os horários em que realizava suas atividades eram a causa de seus problemas de saúde. (…)

Seu estilo de vida não é a soma de quantas calorias você consome num único dia, quantos minutos se exercitou na esteira na semana passada e quantas horas costuma dormir. Em vez disso, é a coordenação dessas coisas com as necessidades do organismo em cada momento do dia. Rory pulava algumas refeições e substituía outras por coisas leves. Exercitava-se quando o corpo não podia se beneficiar da atividade cansativa. E comia e trabalhava tarde da noite, privando-se de um sono reparador. (…)

O dia ayurvédico

Segundo o ayurveda, o dia é separado em seis segmentos que delineiam as necessidades do organismo. Os textos originais são bastante detalhados, mas até mesmo essa visão geral lhe dá uma compreensão sobre como o corpo segue padrões diários circulares. Algumas vezes, as descrições parecem extremamente poéticas ou simplistas, mas é importante ver que esses ensinamentos põem o corpo no centro de um ciclo diário, algo que os especialistas em cronobiologia confirmam a cada estudo que publicam — em que Rory nunca pensou.

  • Das 6 às 10 horas, temos o predomínio da energia kapha (…). Isso significa que o corpo pode estar um pouco entorpecido e pesado, propenso a reter água ou gerar congestão. A mente e o corpo ainda estão despertando com o surgimento da luz e precisam de um choque de exercícios, de meditação e de alimento para se sincronizar com o novo dia. (…).
  • Das 10 às 14 horas, o predomínio é da energia pitta (…). Nesse período do dia, tanto a mente quanto a digestão estão a pleno vapor. É um bom momento para a maior refeição do dia e para o trabalho mais intenso. Seu corpo não precisa de exercícios nesse horário porque você já está bem acordado. Além disso, o organismo tem de manter o fluxo de sangue concentrado no sistema digestivo para que o corpo possa fazer o serviço de converter comida em energia (…).
  • Das 14 às 18 horas, o predomínio é da energia vata (…), período dos reflexos rápidos e do pensamento ágil. Também é a hora do dia em que algumas pessoas ficam distraídas ou desidratadas. Se você não comeu o suficiente pela manhã nem ao meio-dia, essa energia leve e rápida pode se transformar em tremores e ansiedade, e é por isso que as pessoas recorrem a café e lanchinhos nesse momento (…). É bom se manter hidratado e minimizar as distrações.
  • Das 18 às 22 horas é o momento em que a energia volta a ser kapha. O corpo fica um pouco pesado e entorpecido outra vez, preparando-se para dormir enquanto o sol se põe. Às 18 horas, a digestão já está desacelerando, então essa é a hora errada de sobrecarregar o corpo com calorias. A mente está passando do estilo de pensamento rápido e fácil de se distrair para algo mais firme, e algumas pessoas dizem que preferem trabalhar depois das 18 horas porque adoram essa sensação de energia mais estável. Mas é fácil sobrecarregar a mente e tornar o sono impossível mais tarde, quando você precisar. Em vez disso, é melhor fazer uma refeição bem leve no início desse período e passar o resto do tempo dedicando-se apenas a atividades relaxantes. Ao final desse período, é bom estar pronto para dormir.
  • Das 22 às 2 horas predomina novamente a energia pitta (…). Agora o cérebro quer gerar ciclos de sono ainda mais profundos, na tentativa de repousar e se desintoxicar. Enquanto a energia pitta diurna se concentra na digestão, a noturna desacelera o processo digestivo (…). Mas muitas pessoas ficam acordadas trabalhando até meia-noite ou mais. Dizem que têm novo ânimo (…). Ficar acordado até tarde não significa que você seja naturalmente noturno. Só significa que a vontade de dormir é mais ou menos como um trem: ela para e sai da estação num horário previsível. Muitos desses “corujões” se curariam da insônia (assim como de outros problemas de saúde) se embarcassem no trem das 22h30. Se você fizer isso, seu corpo lhe agradecerá de várias maneiras.
  • Das 2 às 6 horas é outro período vata. Aqui o sono fica mais leve; e os sonhos, mais vivos. O corpo se prepara para o ciclo ativo do dia. Se você já foi acordado nessas primeiras horas, sabe que desperta instantaneamente, sentindo a cabeça leve em vez de zonza. É novamente a hora dos reflexos rápidos e do pensamento ágil, e algumas pessoas têm o tipo de insônia que faz com que acordem nesse período com a mente acelerada (…).

Você pode ver que as necessidades do organismo mudam profundamente no decorrer do dia e da noite. A programação de seu dia provavelmente não combina com o que seu corpo exige para funcionar com eficiência. E não é só para comer e dormir que existem horários ideais. Você pode distribuir seu volume de trabalho ao longo do expediente de modo a aproveitar melhor a energia natural do organismo.

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Uma paciente relatou que participava de uma reunião de equipe todo dia às 11 horas, no período pitta do dia. As pessoas chegavam irritadas e intolerantes todos os dias, uma situação exacerbada pela proximidade da hora do almoço. Quando aprendeu os horários ayurvédicos, minha paciente reagendou essa reunião diária para as 14 horas. Mais tarde, ela me disse que todo mundo parecia muito mais calmo e criativo. Era a mesma equipe discutindo os mesmos problemas, mas numa hora diferente do dia, quando tinham mais capacidade de encontrar soluções sem brigar (…).

Benefícios da programação diária saudável

A maioria de meus pacientes está acostumada a pôr o trabalho no centro do cronograma diário. Tentam gerenciar o expediente de forma a realizar mais. Pouca gente considera organizar o dia de modo que as necessidades do corpo venham em primeiro lugar (…). Minha sugestão é pôr todos os hábitos de saúde num único cronograma e fazer dele o centro de seu dia, porque esses hábitos funcionam juntos. O sono afeta o peso e a forma física. A alimentação afeta o sono e a clareza mental. Os exercícios diários melhoram o sono, o nível de energia e as escolhas alimentares.

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