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Liderança a distância: como agir e o que fazer para evitar “Zoom fatigue”?

A Ciência já provou por que as teleconferências são tão exaustivas. Gerir equipes em home office é um desafio que exige organização e flexibilidade

Por Camila Pati
Atualizado em 5 jun 2020, 15h16 - Publicado em 4 jun 2020, 15h59

São Paulo – Quando quarentena foi decretada em março, Flavia Zulzke estava no meio de um processo seletivo para a vaga de gerente de marketing e de comunicação da Cultura Inglesa. A executiva teve certeza, naquele momento, de que a vaga seria fechada. Para sua surpresa, a seleção continuou com rodadas de entrevistas online.

Não que fosse novidade na sua carreira uma entrevista de emprego por vídeo, mas até aquele momento, elas tinham sido individuais. O ineditismo ficou por conta das entrevistas online no modelo 360 via aplicativo Zoom, um dos mais usados para reuniões virtuais, ao lado do Microsoft Teams e do Google Meet. Com o isolamento social o aumento do número de clientes pagantes do Zoom cresceu mais de 350%.

“Fiz entrevista com meus pares, minha equipe também me entrevistou, além dos executivos do conselho.Tive umas quatro rodadas pelo Zoom”, conta. Em algumas delas, com mais de sete pessoas na sala”. Contratada, passou por um intenso processo de integração com mais uma série de reuniões pelo Zoom. A executiva diz que foram 20 teleconferências nas duas primeiras semanas. “Fiz um tour virtual por todas as áreas, para entender os desafios. Tive um aprofundamento em algumas áreas do negócio.”

Há pouco mais de um mês no novo cargo, Flávia, que foi head de marketing da Avianca por sete anos, diz que, seguramente, está diante do maior desafio em toda sua carreira: “fui admitida para um cargo de liderança sem poder fazer visitar a empresa nem conhecer meus pares e minha equipe pessoalmente”,  diz ela que tem sob sua responsabilidade direta um time de 18 pessoas.

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A virtualidade do home office exige um esforço de proximidade da liderança. “Minha dica aos líderes é para não se distanciarem. Escuto meus diretores, marco cafés com eles pelo menos duas vezes por semana, e tenho me desafiado a fazer cafés de uma hora com a minha equipe”.

Reuniões de time, reuniões de feedback, sessões de mentoria. Tudo feito a distância, tudo virtual, tudo por uma tela de computador ou de smartphone.  Ela diz sentir falta da linguagem corporal na comunicação virtual mas ficou surpresa com o que conseguiu alcançar em termos de proximidade com os colegas de trabalho e também de entendimento do negócio e do desafio.

“Nunca pensei que mesmo de forma remota já criaria empatia, afinidades profissionais e pessoais e começaria ter uma visão do negócio. Estou surpresa com algumas pessoas que tenho encontrado e o quanto elas têm me ajudado com este onboarding, digamos, diferenciado. Até o próximo (primeiro!) happy hour estamos ansiosamente aguardando! rs”, diz.

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 O fenômeno Zoom Fatigue

A ausência das informações gestuais e corporais tem tido peso exaustivo na comunicação virtual. Pesquisadores já descobriram que reuniões por teleconfêrencia são mais cansativas do que os encontros presenciais e já há até um apelido para esse tipo de exaustão: Zoom fatigue.

“A ausência da comunicação não-verbal demanda do cérebro um esforço muito maior para se concentrar e para codificar as imagens do vídeo”, diz Luciana Slosbergas, diretora de relações governamentais da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e teleatividades e advogada do escritório Filhorini Advogados Associados.

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Reduzida a uma tela com polegadas, a mensagem do interlocutor numa videoconferência traz menos sinais não verbais, como gestos, tom de voz, expressões faciais e tem o cenário como fator de desvio de atenção.

A especialista cita pesquisas de Gianpiero Petriglieri, professor do Insead (European Institute of Business Administration) e Marissa Shuffler, professora da Clemson University. Eles descobriram que o corpo humano decifra formas completamente diferentes para reuniões presenciais e por videoconferência.  Ficou provado que o ambiente presencial tridimensional, traz mais conforto para a comunicação.

“Sinto fadiga. Se fosse presencial, o processo de integração teria sido intenso pela complexidade do começo de um desafio mas teria sido menos cansativo”, diz Flávia.

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Depois de três semanas de trabalho, a executiva sentia-se exausta. “Tive que parar e estabelecer um limite para videoconferências”, diz Flávia. Sessões de mentoria com o CEO da Cultura Inglesa, Marcos Barboza, ajudaram a executiva a se organizar e não deixar a vontade de se integrar logo drenar suas forças.

Como chegar ao equilíbrio

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Apropriar-se da agenda e definir um limite saudável para as reuniões virtuais é necessário diz Flávia. “Para que essas horas todas não suguem o nosso lado criativo.”

Outro ponto que torna a comunicação por videoconferência ainda mais extenuante está relacionado a um aliado de todo bom orador: aquelas pequenas pausas ao longo da fala. No ambiente virtual o seu efeito é nocivo para a comunicação.“Os pesquisadores descobriram que fazer pausas durante a fala em videoconferência causa desconforto em quem ouve e perda de interesse. Não soa simpático”, diz Luciana.

Se não é possível deixar espaço no discurso digital, as pausas entre reuniões são fundamentais para evitar o esgotamento. “Após uma reunião cansativa é importante fazer com que o cérebro desligue um pouco, antes de retomar o trabalho”, diz Luciana.

Ao programar uma videoconferência, verifique se é mesmo necessária ou se é possível resolver por e-mail ou ligação por voz. Reuniões online com amigos e família devem ser feitas em ambiente que não seja o do expediente. Manter um ambiente exclusivo para o trabalho é uma das regras de ouro da produtividade em casa.

Um dos legados da quarentena, segundo as duas entrevistadas, são as lições de como trabalhar melhor a distância, já essa essa modalidade caiu nas graças até dos departamentos de RH mais resistentes ao teletrabalho.“Esse período tem sido muito bom para aprendermos a fazer home office”, diz Flávia.

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