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Fui demitido, e agora? Estas estratégias ajudam a encontrar alternativas

Perder o emprego em meio à pandemia é assustador. Especialistas dão dicas de como superar a demissão e partir para outra

Por Natália Gómez
Atualizado em 9 fev 2021, 17h05 - Publicado em 23 jun 2020, 06h00

Depois de quatro meses trabalhando na área de facilities de uma fintech, a publicitária Manoela Reis, de 36 anos, recebeu uma ótima notícia: havia sido promovida com um aumento salarial de 25%. Além de confiante com seu futuro na empresa, a profissional também estava feliz por atuar pela primeira vez na área de recursos humanos, algo que sempre desejou.

No entanto, menos de dois meses após a promoção, a pandemia do novo coronavírus atrapalhou os planos da paulistana. Em abril, a empresa colocou todo o time em home office, menos Manoela. Ela e outros 18 funcionários foram demitidos. “Eu era responsável pelas instalações físicas e pelos recursos de apoio para os empregados, então grande parte do meu escopo de trabalho deixou de existir”, diz.

Lidar com a demissão logo após feedbacks excelentes e perspectivas de crescimento na companhia deixaram Manoela sem reação. “Fiquei anestesiada, passei dois dias inteiros só assistindo televisão”, diz. Mas logo a profissional percebeu que precisava tomar uma atitude. Decidida a continuar no RH, passou a buscar cursos em temas como employer branding e experiência dos funcionários. Também recorreu a atividades físicas, por meio de aulas online, e a um curso de inteligência emocional. “Minha meta é manter a cabeça boa, o corpo saudável e acumular conhecimento para me reinserir no mercado”, afirma.

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Ilustração: Victor Beuren ()

Hora de desacelerar

Enquanto a contaminação pelo novo coronavírus avança no país, histórias como a de Ma­noela começam a se multiplicar Brasil afora. E, se perder o emprego já era difícil antes da pandemia, ser demitido em meio ao surto de ­covid-19 pode ser pior ainda.

Isso porque a crise do coronavírus tem particularidades: as mudanças de rotina e a convivência forçada com familiares por si só geram sentimentos como ansiedade, estresse, solidão e preocupação. Para quem perdeu sua principal fonte de renda, algumas dessas sensações, como a incerteza sobre o que acontecerá nos próximos meses, podem ser agravadas. “A pandemia fez as pessoas serem relembradas de que o futuro é incerto, mas as que foram demitidas tiveram um lembrete ainda maior”, diz Márcia Miyamoto, coach e professora na The School of Life.

Apesar de as dificuldades serem grandes, é possível dar a volta por cima e tirar boas lições desse momento. O primeiro passo para atravessar esse período é um dos mais difíceis: reduzir o ritmo. Mesmo que a vontade de atualizar o LinkedIn e começar a procurar emprego venha logo em seguida à demissão, especialistas recomendam desacelerar a rotina por alguns dias para deixar os sentimentos virem à tona. Raiva, tristeza e negação são alguns que podem aparecer. E, apesar de serem desagradáveis, são uma etapa importante para superar o luto do antigo emprego. “Nesses dias você pode lançar mão de recursos como meditar, ler ou escrever”, orienta a psicóloga Maria Elisa Moreira, professora de educação executiva no Insper.

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Para não cair na depressão, uma ferramenta útil é praticar a gratidão, reconhecendo os aprendizados vividos na antiga empresa. “Lembre-se de que, diferentemente de outras esferas da vida, sempre há uma solução para o campo profissional, e que você não se resume apenas ao trabalho”, diz Márcia, da The School of Life.

Cabeça em ordem

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Ilustração: Victor Beuren ()

Não se esqueça de envolver a família em seu processo de recuperação após a demissão. Tenha uma conversa franca, expresse seus sentimentos e deixe que os outros membros também exponham seus medos e angústias sobre a situação. A transparência ajuda a tranquilizar seus entes queridos e deixa o clima mais agradável dentro de casa, o que é importantíssimo em tempos de isolamento social.

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Além das aflições, a conversa deve incluir um planejamento financeiro para atravessar a crise. Afinal, a renda de todos será impactada pela demissão. Para colocar as contas em ordem, é importante que todos participem e passem a anotar seus gastos. Quem conta com uma reserva financeira vai colher os frutos agora. Quem não a fez, deve começar a organizar as finanças o mais rápido possível.

Outra recomendação nos primeiros dias é ser discreto e evitar mandar enxurradas de mensagens para colegas e recrutadores que estão no mercado. Longos e-mails de despedida e desabafos nas redes sociais também devem ser evitados. Isso porque o risco de dizer coisas das quais irá se arrepender é maior nesse período de emoções à flor da pele. “O ideal é o profissional apenas comunicar que deixou o emprego e dizer que avisará quando tiver novidades”, diz José Augusto Figueiredo, presidente no Brasil da consultoria Lee Hecht Harrison (LHH).

Também é importante fazer uma autoavaliação sobre sua atuação no último trabalho, pois, embora a pandemia e a recessão iminente sejam as justificativas para a demissão, a empresa utilizou critérios para escolher quais profissionais seriam desligados — e você foi um deles. “Seja honesto consigo mesmo e analise sua capacidade de relacionamento e aprendizado, além de sua habilidade para lidar com mudanças”, recomenda Maria Elisa, do Insper.

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Vale, por exemplo, resgatar avaliações antigas de feedbacks e esmiuçar o que foi dito. Essa atitude pode fazer toda a diferença na hora de um novo processo seletivo. “Os recrutadores vão questionar os motivos de sua demissão e será preciso responder com tranquilidade. Isso só será possível se as razões estiverem claras na sua cabeça”, afirma José Augusto, da LHH.

Uma possibilidade é questionar diretamente os antigos chefes, por meio de e-mails ou mensagens de celular. Na hora de fazer essa abordagem, o profissional deve dizer quais motivos atribui ao seu desligamento e perguntar se o ex-gestor pensa da mesma forma.

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Tenha foco

Quando você tiver digerido a demissão, será hora de entrar em contato com sua rede. Nesse momento, você pode fazer uma publicação no LinkedIn sobre suas ideias, seus projetos e as habilidades que possui. “Dessa forma você dá uma notícia positiva sobre o caminho que está almejando. O tom menos pessimista faz com que as pessoas fiquem mais confortáveis para conversar com o profissional demitido, o que, portanto, aumenta as chances de indicação”, afirma José Augusto.

Porém, para que isso seja eficiente, é preciso definir exatamente qual será seu próximo objetivo profissional. “Reflita qual é sua contribuição para a sociedade e o que o move”, explica Maria Elisa, do Insper. Com essa clareza, é possível entender se sua busca irá se concentrar em arranjar um novo emprego, tornar-se prestador de serviços ou empreendedor. De acordo com Márcia, da The School of Life, analisar o propósito e os sonhos profissionais também será útil para que as próximas ações façam sentido. “A pessoa não deve gastar tempo fazendo qualquer curso se não sabe como vai usá-lo”, afirma.

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Ilustração: Victor Beuren ()

Utilizar o momento difícil para refletir sobre os próprios desejos — e traçar uma meta para alcançá-los — foi exatamente o que fez Alison Morais de Souza, de 30 anos, que em meados de abril perdeu o emprego como gerente de uma loja de acessórios e manutenção de smartphones em Rolândia, no Paraná. “Quando a crise do coronavírus começou a se agravar, as vendas caíram muito e imaginei que o proprietário do local não conseguiria bancar o meu salário”, afirma Alison.

Com a mudança, ele passou a se sustentar com a ajuda da esposa, que continua trabalhando como gerente em uma loja de doces. Embora tenha sentido a perda do emprego nos primeiros dias, ele conta que está conseguindo se manter otimista  porque tem planos para o futuro: quando passar o período de isolamento social, Alison pretende realizar um curso de manutenção de smartphones e abrir uma loja igual àquela em que trabalhava.

Para concluir o projeto, entretanto, terá de repensar os hábitos de consumo e economizar um pouco. Por isso, ­Alison e a esposa já cortaram algumas despesas e negociaram uma extensão de prazo para pagar o financiamento da casa onde moram. “Eu já tinha o sonho de empreender, então, quando veio a demissão, sabia que era a hora de começar a planejar”, explica Alison. Nesses momentos de crise, é preciso fazer como o paranaense: tentar encontrar sua essência e descobrir quais são seus estímulos pessoais para seguir em frente.


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