Imagem Blog

Luciana Camargo

Diretora estratégica da Associação Brasileira de RH (ABRH-SP). Escreve sobre carreiras, liderança, diversidade e inclusão e desenvolvimento pessoal
Continua após publicidade

Cuidados com a saúde mental na quarentena

Por que a tecnologia pode ajudar nos cuidados com a saúde mental

Por elisatozzi
Atualizado em 4 Maio 2020, 06h00 - Publicado em 4 Maio 2020, 06h00

A depressão e a ansiedade até recentemente eram vistas com preconceito, mesmo sendo reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como temas essenciais e críticos. O número de casos de depressão subiu 18% em uma década, e após a pandemia do novo coronavírus os números provavelmente aumentarão ainda mais.

Essa nova realidade de isolamento pode ser vista de muitas formas diferentes. Eu demorei a escrever o este artigo pois estava também no processo de aprender com minha nova rotina profissional e doméstica, cuidando das pessoas mais preciosas de minha vida. Já são mais de 30 dias administrando uma rotina que jamais poderíamos imaginar, quando tomamos champanhe e comemoramos a virada de 2020.

Adaptabilidade

Tentando olhar o copo cheio, a minha primeira reflexão é sobre a nossa incrível capacidade de adaptação e aprendizado. Em meus artigos sobre cultura e transformação digital, por muitas vezes refleti sobre a dificuldade das pessoas mudarem comportamentos, temas também debatidos no livro  Immunity to Change, de Robert Kegan e Lisa Laskow Lahey, e O Poder do Hábito, de Charles Duigg.

No entanto, o contexto da pandemia está nos ensinando que as vezes mudar comportamento não é só uma opção, mas uma necessidade de sobrevivência. Nesta hora, não estamos apenas usando o nosso lado racional, mas fazendo a gestão de um turbilhão de emoções.

Tenho a possibilidade de atuar remotamente, usando os benefícios do home office, há mais de uma década, por trabalhar numa empresa de tecnologia. Sempre acreditei que o trabalho digital pode ser muito interessante e produtivo. Contudo, a experiência de perder a mobilidade repentinamente, mantendo ainda uma rotina intensa de trabalho, com muitas preocupações, além de gerir uma demanda doméstica grande, me faz concluir que nenhum de nós é super-herói.

Continua após a publicidade

Se nós nos conhecermos muito bem, começamos a sentir o nosso corpo e nossa mente como um laboratório: perda de sono, dores das costas, ansiedade, sintomas da gripe sem estar infectados, enfim, uma verdadeira lição de como é importante administrar nossas emoções para gerenciar tantos estímulos e mudanças.

Saúde mental e tecnologia

O recente estudo da IBM How technology and data can improve access to mental health resources aponta que mais de 10% da população mundial, cerca de 1 bilhão de pessoas, são afetadas por problemas de saúde mental. Nesse cenário, hoje, quase todas as nações estão atuando para ampliar a conscientização e oferecer apoio às pessoas afetadas, mas não é uma tarefa simples. Um dos principais desafios é identificar um grande número de pessoas que não expressa suas necessidades. Mesmo neste contexto da pandemia, temos que parar e pensar no que estamos sentindo para entender melhor nossas emoções.

Neste sentido, é essencial que nós, Recursos Humanos, tenhamos uma estratégia para apoiar nossas empresas e o mercado com iniciativas que promovam a saúde emocional de líderes e profissionais. A conscientização sobre a importância da gestão de nossas emoções, nosso tempo, nossas prioridades, nossa saúde (movimento, alimentação, sono, mente) nos faz mais equilibrados e produtivos.

A capacitação em novas tecnologias passa a ser fundamental e passamos a descobrir como as ferramentas de colaboração podem aumentar nossa produtividade e criatividade.

A construção de uma cultura que promova ambientes inclusivos, de confiança e segurança psicológica, sejam eles físicos ou virtuais, proporcionam uma comunicação sincera e autêntica, e permite que as pessoas deem o seu melhor e se sintam mais felizes e produtivas.

Continua após a publicidade

Para isso, o papel da liderança é fundamental. Um líder inclusivo, em tempos de crise, compreende cada membro de seu time como indivíduo que tem seus talentos, experiências e sua história, e age com empatia e sensibilidade para entender e valorizar diferentes realidades e emoções sem julgamento ou preconceitos.

Novos caminhos

Eu não acredito que o mundo voltará a ser o que era após esta pandemia. Ela está nos mostrando que, sim, somos capazes de focar no que é importante, trabalhar com senso de urgência, nos conectarmos e sermos muito produtivos, mesmo sem o contato pessoal.

O mundo digital muda muito rápido e tem aumentado o escopo das interações humanas. As redes sociais contribuem pra transformar nosso entorno e o comportamento das pessoas,  tanto na forma como se relacionam, como no que entendem por felicidade. Têm sido muito importantes para que o isolamento seja físico, mas não psicológico. A conexão com as pessoas e os amigos nos fazem bem e são muito importantes para nossa saúde emocional.

O caminho está em uma vida com mais empatia, consciência dos nossos limites, das nossas emoções e do impacto que causamos nas pessoas que nos cercam, mesmo que virtualmente. Cuidar da nossa saúde sem tabus é importante para falarmos sobre saúde mental e emocional com a mesma naturalidade que falamos da saúde do nosso corpo.

Quanto mais falamos sobre um problema, temos menos razão para ter medo. Não teremos respostas pra tantas mudanças, mas temos que estar mais confortáveis em viver com as incertezas. Uma vida emocionalmente saudável nos dará força e energia de vivermos uma vida com mais coragem e propósito.

Continua após a publicidade
(Divulgação/VOCÊ S/A)
Publicidade