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Claudio Lottenberg

Médico oftalmologista, é presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde. Também atua como conselheiro da Unicef.
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Os jovens e o sonho da carreira médica

Pandemia faz a procura pelos cursos da área da saúde crescer ainda mais.

Por Claudio Lottenberg
3 dez 2021, 14h06

As mudanças que a Covid-19 forçou no mundo foram inúmeras e intensas. A economia de forma geral e o mercado de trabalho em particular, em praticamente todas as carreiras, estão entre as áreas que mais sofreram. Uma das exceções, no entanto, é o setor de saúde — não só pelo aumento exponencial de demanda por atendimentos e serviços médicos, mas também pela forte demanda por estes profissionais. E isso tem levado os jovens a se interessar cada vez mais por carreiras e trabalho na área.

Dados de um levantamento da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) divulgado no início de novembro, feito com base em números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostram que o setor — que já responde por 2,6 milhões de empregos com carteira assinada no país — registrou um saldo positivo de 203.935 empregos de janeiro a setembro deste ano. Nada menos que 84% acima do superávit de 2020, de mais de 110 mil vagas. O setor respondeu, no mesmo período, por 7% dos empregos criados no país.

Ou seja, as perspectivas para a saúde brasileira são de mais oportunidades profissionais. Até porque, com as sequelas deixadas pela doença, haverá necessidade de mão de obra qualificada para cuidar dessas pessoas. Os jovens, ao que tudo indica, querem estar preparados para esse cenário, principalmente porque o desemprego no Brasil tem permanecido em patamar elevado.

Outro levantamento também confirma que a área da Saúde está atraindo a atenção deles. De acordo com dados da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), dos 15 cursos de graduação mais buscados em entidades de ensino superior privadas, seis são da área (psicologia, educação física, biomedicina, fisioterapia, nutrição e enfermagem — que foi o mais citado).

Interessante também é olhar para o segmento de tecnologia: tem crescido de forma expressiva a demanda por profissionais de Tecnologia da Informação (TI), como aqueles que atuam com desenvolvimento de aplicativos e bancos de dados, entre muitas outras atividades correlatas. A Saúde terá uma necessidade crescente por mão de obra ligada à tecnologia. Afinal, a telemedicina (que ainda aguarda regulamentação definitiva) veio para ficar, e o Brasil tem se mostrado forte no surgimento das chamadas healthtechs: as startups da área de saúde. Já são mais de 500 no país, segundo a consultoria Distrito.

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Há ainda, claro, o fator inspiração. A medicina sempre fez parte do sonho de muitos jovens, já que a possibilidade de ajudar o próximo tem um forte apelo. Além disso, a pandemia ocasionou uma reconsideração de valores: estudar e trabalhar em uma atividade que possa afastar das pessoas a doença e a dor se tornou uma meta de vida para muitos. O mesmo raciocínio se aplica à enfermagem e a tantas outras especializações da área médica e de saúde, de socorristas a paramédicos. Muitos se encantaram com o trabalho intenso desses profissionais, ainda mais recentemente, no combate ao novo coronavírus — o que certamente tem peso na escolha da carreira.

Mas enveredar pela área da saúde requer mais do que inspiração. Para começar, vale a pena procurar conhecer o dia a dia das profissões desejadas e dos profissionais, dentro de cada área, refletindo sobre as possíveis exigências e limitações que vão encontrar. Outro ponto a se considerar é a expectativa de remuneração, que nem sempre se realiza.

São informações que devem ser levadas em conta na hora de decidir encarar esse desafio. Vale lembrar que a pandemia também acelerou os processos de transformação digital na saúde. E as novas gerações, que realizam praticamente todas as suas atividades por meio de uma tela, têm conhecimento e disposição para ajudar na implementação das novas práticas que já estão pavimentando o caminho para a medicina do futuro.

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