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Bolsas acionam modo pânico com a variante Ômicron

Cepa que pode ser mais transmissível e resistente a vacinas derruba os índices, o petróleo, o minério e os planos para o Ano Novo. Entenda melhor a mecânica das mutações, e veja qual é o grande receio do mercado.

Por Juliana Américo, Alexandre Versignassi
Atualizado em 26 nov 2021, 20h01 - Publicado em 26 nov 2021, 18h49

Ômicron. É a décima quinta letra do alfabeto grego, e foi adotada agora à tarde para batizar a décima terceira das variantes mais notáveis do coronavírus: aquelas que podem trazer alguma mutação mais perigosa. 

As mutações são aleatórias, e acontecem o tempo todo. A maioria não traz vantagem para o vírus. Mas às vezes os dados de Darwin caem no lugar certo (para o vírus), e ele fica mais poderoso. É o que a ciência pode ter descoberto agora na variante descoberta na África do Sul. 

Cada tipo novo de Sars-Cov-2 traz dezenas de mutações no código genético. A variante Ômicron tem cerca de 50. O problema: 30 delas estão justamente na proteína spike, que forma a “coroa de espinhos” do corona. Esses espinhos são chaves que o vírus usa para penetrar nas nossas células.

As vacinas agem como um Uri Geller: “entortam” essas chaves, deixando o invasor impotente. Sem ter como se reproduzir (que é a coisa que eles fazem dentro das células), eles perecem.

Mas… E se aparecer uma variante com uma proteína spike que resiste à ação das vacinas? Bom, como a Ômicron espalhou-se pela África do Sul de forma feroz, e tem de fato mutações na proteína spike, o receio é o de que essa variante possa ser resistente a vacinas – o que faria o combate ao Sars-Cov-2 voltar muitas casinhas no tabuleiro. 

Importante: os cientistas simplesmente não têm como saber se as mutações de fato conferem resistência a vacinas, ou tornam o vírus mais mortal que as versões anteriores. Só vamos saber disso com o tempo, conforme a Ômicron progride. 

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Se a ciência não sabe o real poder da variante, imagina a Faria Lima, e Wall Street, e Frankfurt, e Xangai… Mas o mercado, desde a Holanda do século 17, onde inventaram as bolsas de valores, é um ser feito de ansiedade em estado bruto. 

A queda

Em Wall Street, foi um banho de sangue. Além de toda a confusão com a Covid-19, o pregão americano foi mais curto por causa da volta do feriado de Ação de Graças e Black Friday – o que por si só já reduz o volume de negociações. O índice Nasdaq afundou 2,23%, aos 15.491 pontos. Já o S&P 500 caiu 2,27%, aos 4.594 pontos.

O Ibovespa, claro, seguiu o sentimento global de desespero. A bolsa brasileira chegou ao patamar dos 101 mil pontos mais de uma vez ao longo do dia. No final, ela fechou em 102.224 pontos, após derreter 3,39% – todas as 92 ações do índice fecharam no negativo.

O receio é de que a nova cepa obrigue a volta das medidas mais rigorosas de isolamento, que infectam o consumo, o mercado de trabalho, o lucro das empresas. Seria o fim da recuperação econômica que os bancos centrais forjaram com suas impressoras de dinheiro. 

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No começo do mês, por exemplo, o Federal Reserve anunciou que estava preparado para fechar a torneira de US$ 120 bilhões que estavam sendo jogados na economia através da compra de títulos. A partir de dezembro, esse valor já vai ser menor, de US$ 105 bilhões. E o plano inicial era de reduzir US$ 15 bilhões por mês até zerar os estímulos monetários. Se a pandemia voltar para os seus piores momentos, o banco central americano talvez reveja velocidade da retirada de estímulos. 

Mas tem um problema maior aí. Um a cada quatro dólares que já existiram na história foi produzido entre 2020 e 2021. São US$ 5 trilhões a mais em circulação. Se a nova cepa criar novos lockdowns, a cadeia produtiva vai para o espaço. A produção cai. Com pouca coisa sendo produzida e muito dinheiro circulando, os preços sobem. Temos inflação

Como a inflação já estava subindo forte a antes da Ômicron, no mundo todo, existe agora a chance de que ela saia completamente do controle.

Aí danou-se. 

Petróleo: -11%

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As commodities não tinham como sair imunes ao pessimismo de hoje, claro. O minério de ferro recuou 5,6%. Mas foi o petróleo quem mais sofreu: o tipo Brent (que é referência internacional) caiu 11,5%, enquanto o WTI (que é referência no mercado dos EUA) afundou 13,06%. 

Não foi só a Ômicron. O mercado está atento ao cabo de guerra entre o presidente americano Joe Biden e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados, a Opep+. 

O grupo rejeitou os apelos de Biden para aumentar a produção de petróleo, de modo a reduzir a pressão sobre os preços do suco dinossauro. Em retaliação, o presidente anunciou a liberação de 50 milhões de barris de petróleo da Reserva Estratégica de Petróleo dos EUA – um estoque governamental criado nos anos 70. 

Aviões no chão e vacina no braço

O setor de turismo foi o mais afetado pelo pânico desta sexta. Nos EUA, as ações das companhias aéreas desabaram com o risco de uma nova onda de restrições de viagens. A United caiu 9,57%, seguida pela American Airlines (-8,29%) e Delta (8,08%).

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A União Europeia já suspendeu os voos da África do Sul e a Comissão Europeia também propôs a ativação de um mecanismo de emergência para interromper as viagens aéreas da região. Os EUA, Canadá e países da Ásia e Oriente Médio também já anunciaram restrições de viagens. Além disso, as autoridades querem exigir que os viajantes apresentem o comprovante de vacinação. 

Entre as companhias europeias, a British Airways caiu 14,85%; Lufthansa -12,34%; Ryanair -10,03%; e Air France-KLM -9,45%.

A Anvisa também se posicionou e recomendou que o Brasil suspendesse temporariamente a entrada de viajantes com passagem pela África do Sul e outros cinco países (Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue). No entanto, em conversa com os seus apoiadores, o presidente Jair Bolsonaro descartou a opção de fechar as fronteiras. 

Por aqui, quem liderou as quedas foi a Azul. A empresa recuou 13,78%. A Gol colou na concorrente e desabou 11,17%. Já a CVC caiu 10,95%. 

Por outro lado, tem quem saia ganhando no caos. No caso, foram as principais fabricantes de vacinas. As ações das companhias dispararam: a Moderna subiu 20,5%, seguida por BioNTech (14,1%), Novavax (8,95%) e Pfizer (6,15%). 

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E agora? Por ora, só resta esperar sentado para ver se a Ômicron é realmente tudo isso. Mas melhor esperar de máscara.

 

Menores baixas

Taesa (TAEE11): -0,06%

Suzano (SUZB3): -0,09%

EDP Energias (ENBR3): -0,75%

CCR (CCRO3): -0,76%

Engie Brasil (EGIE3): -0,76%

Maiores baixas

Azul (AZUL4): -13,78%

Gol (GOLL4): -11,17%

CVC (CVCB3): -10,95%

Meliuz (CASH3): -10,14%

PetroRio (PRIO3): -9,19%

Ibovespa: -3,39%, aos 102.224pontos

Em NY:

S&P 500: -2,27%, aos 4.594 pontos

Nasdaq: -2,23%, aos 15.491 pontos

Dow Jones: -2,53%, aos 34.899 pontos

Dólar: 0,55%, a R$ 5,5958

Petróleo

Brent: -11,5%, a US$ 71,59

WTI: -13,06%, a US$ 68,15

Minério de ferro: -5,55%, US$ 96,67 no porto de Qingdao (China)

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