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Três perguntas para Johanna Stein, da livraria Gato sem Rabo

Livrarias de rua são cada vez mais raras. Mas uma empresária de São Paulo resolveu apostar na fórmula – focando seu negócio em obras escritas por mulheres.

Por Guilherme Eler
Atualizado em 15 abr 2021, 17h23 - Publicado em 5 abr 2021, 17h23

No início do século 20, a presença de mulheres na literatura causava estranheza. Tanto quanto avistar no jardim um gato exótico – e que ainda por cima não tinha rabo. A metáfora aparece no ensaio Um teto todo seu, escrito pela autora inglesa Virginia Woolf em 1929, e foi escolhida para batizar uma livraria de rua 100% dedicada a obras escritas por mulheres. A Gato sem Rabo é um projeto de Johanna Stein, catarinense formada em Artes Plásticas com longa carreira como modelo. A partir de maio, o empreendimento vai ocupar 65 metros quadrados no centro velho de São Paulo, reunindo 15 mil volumes da produção literária feminina.

1. A livraria será o seu primeiro negócio? Como surgiu a ideia?
Sim, será. A ideia nasceu de uma pesquisa que eu fazia para outro projeto em artes. Com a dificuldade de encontrar publicações de autoras mulheres num único espaço físico, surgiu a vontade de construir esse lugar. Há dois anos venho conversando com pessoas do meio editorial e formando o catálogo de livros escritos por mulheres. As principais capitais do Brasil estão numa retomada das pequenas livrarias, mas algumas reproduzem, em boa medida, o mesmo acervo. É diferente do que acontece lá fora, onde as livrarias menores procuram ser especializadas. Temos como exemplo disso a Violet & Co, de Paris; a Blue Stockings, de Nova York; e as londrinas Persephone Books e The Second Shelf [no caso, todas especializadas em livros escritos por mulheres].

2. Com o mercado editorial em crise, várias livrarias estão fechando. Por que a decisão de abrir um a loja física?
A crise não é exatamente do mercado editorial, mas do modelo que foi criado em função das grandes redes. Estamos em um momento de proposição de alternativas. A abertura de livrarias de rua é parte desse movimento, assim como o surgimento de editoras independentes. A escolha por abrir uma livraria de rua é também afirmar que – no espaço físico e no contato humano – conseguimos aquilo que um algoritmo é incapaz de fazer: a troca e o diálogo.

3. O agravamento da pandemia atrasou o início das atividades. Vocês pretendem ter um a loja virtual? E qual será o tamanho da coleção?
Desde o início planejamos ter a loja e o e-commerce, que seria inaugurado alguns meses depois. As atuais restrições nos levaram à abertura simultânea de ambos, em maio, com a tentativa de adaptar ao máximo no espaço virtual o que está planejado para o espaço físico. É grande o volume de novidades e há muitas autoras apagadas pela história a serem descobertas. Mas temos uma limitação de espaço. 1.500 títulos são uma boa amostra da produção de mulheres publicada no Brasil em ficção, não ficção, literatura infantil e juvenil. No total, contaremos com aproximadamente 150 editoras e 650 autoras.

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