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Keep calm. O tombo do Ibovespa foi um ajuste natural

Vale, CSN, WEG: as campeãs de altas desabam nesta sexta-feira de realização de lucros e puxam o Ibov a -2,54%. Normal – por enquanto. 

Por Alexandre Versignassi
Atualizado em 15 jan 2021, 18h51 - Publicado em 15 jan 2021, 18h49

A lei da gravidade é implacável. Ela atravessa as membranas do espaço-tempo, e, frequentemente, chega aos domínios de um mundo mágico: o do mercado financeiro. Entre os dias 04 e 08 de janeiro, o Ibovespa engatou uma subida de 6,5%, e renovou seu recorde nominal para 125.199 pontos. Some a isso o fato de que o índice já vinha de altas expressivas em novembro (15,9%) e dezembro (9,30%). Não só o Ibovespa. As bolsas do resto do mundo seguiam basicamente a mesma toada. 

E aí não tem milagre: um hora a realização de lucros supera o apetite por mais risco. A bolsa abriu a semana em 125 k e agora fecha em 120.348. Uma queda de 3,8% na semana, sendo que mais da metade aconteceu só hoje. 

Pura gravidade. “Realização de lucros”, para quem não está assim  tão inteirado, é o momento em que você vende suas ações para embolsar o que elas tiverem subido. Ação, afinal, não é fundo de renda fixa. O dinheiro que você tem ali é “virtual”. Amanhã, boa parte dele pode não estar mais lá. E a única forma de garantir o rendimento é vendendo num momento de alta (ao contrário de um fundo de renda fixa, no qual não há momento de alta ou de baixa).

Isso explica parte do caráter montanha-russa da bolsa. Sempre haverá grandes e pequenos investidores vendendo ações para tirar seu lucro da virtualidade, e trazê-lo para a realidade. Após grandes momentos de alta, esse movimento se intensifica, lógico – simplesmente porque o número de investidores com lucros para resgatar aumenta absurdamente. Então haverá mais gente comprando do que vendendo, e a bolsa vai cair. 

É o que aconteceu hoje. Ibovespa (-2,54%) e S&P 500 (-0,72%, a 3.768 pontos) amargaram baixas. Boa parte do noticiário econômico creditou isso ao fato de o mercado estar “analisando as probabilidades de o pacote de estímulos de Biden passar pelo congresso americano”. É verdade, mas apenas em parte. As dúvidas (sempre presentes) sobre se uma injeção trilionária (US$ 1,9 tri) vai passar ou não simplesmente diminuem as compras de ações, o que dá uma freada nas altas. 

A baixa, porém, não reflete um eventual pessimismo. É simplesmente um movimento natural após um dos períodos mais exuberantes da história do mercado financeiro. Sem falar que o preço das ações segue lá no alto. Tanto o Ibovespa como o S&P 500 seguem pertinho de seus recordes históricos, conquistados em janeiro – o do S&P 500 é de 3.824 pontos. 

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Ou seja: ainda tem chão para cair, até porque não se sabe quais serão os efeitos dos novos lockdowns. China e Europa já endureceram seus isolamentos. E a tendência é que ocorra o mesmo aqui e nos EUA. Mesmo assim, há um alento óbvio: não estamos em março de 2020. Há diversas vacinas circulando. A pandemia seguirá tirando vidas, mas o que está no horizonte não é o caos, é o eventual controle do vírus, e uma economia global de volta aos trilhos. 

O ponto, porém, é que o mercado financeiro já tinha “precificado” tudo isso. É como se o patamar das ações no início de janeiro já refletissem uma realidade livre da pandemia. Nisso, qualquer temor extra leva a uma avalanche de realização de lucros. Vide a CSN. Ela subiu 125% em 2020, marcando a maior alta do Ibovespa no ano passado, e lidera as quedas desta sexta-feira cinzenta, com gritantes -8,08%.

E, claro, sempre há os casos isolados, que pairam acima das correntezas do mercado. Num dia de baixa generalizada, um destaque de alta foi a JHSF, um incorporadora de empreendimentos de luxo – como o condomínio Fazenda Boa Vista, o aeroporto de jatos particulares Catarina, a grife Fasano de hotelaria e shoppings daqueles que não dá para chegar a pé. 

Motivo: ela reportou um faturamento de R$ 12,3 bilhão em 2020 – 228,5% acima do de 2019. E ficou entre as poucas altas do dia, com 2,46%. A subida de quase 2% do dólar, um clássico de dias de pânico, ajudou algumas exportadoras. Caso da Suzano. A companhia de papel e celulose fechou em alta de 2,50%.

A campeã do dia, por fim, foi a B2W. O Itaú BBA reforçou a recomendação de compra das ações da companhia de comércio eletrônico, reiterando que a mudança nos hábitos de compra após a pandemia devem permanecer. O preço alvo que eles têm para a ação é de R$ 128 – 60% acima da cotação atual, de R$ 81. Resultado: alta de 5,11% e a medalha de ouro do dia.    

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Já os papéis mais dependentes de uma retomada da economia mundial, e que tinham subido horrores nos últimos meses, penaram. Caso da Vale (-4,35), da Petrobras (-4,52%) e da WEG (-4,13%) – WEG que foi a segunda maior alta de 2020, com 120%, vamos lembrar. Como as três sozinhas respondem por nada menos que 25% do Ibovespa, elas puxaram o índice para baixo. 

E é isso. O que estamos vendo agora, ao que tudo indica, é um ajuste natural do mercado diante da realidade. Uma realidade que teima em avisar que, putz, desculpa aí, mas a pandemia não acabou. Claro que o futuro é imprevisível por definição, e um alastramento maior da pandemia pode causar algo mais grave. O que aconteceu hoje, de qualquer forma, ainda está dentro das condições normais de temperatura e pressão do mercado.

Então keep calm, se cuida, cuida dos outros e espera pela vacina. Está quase. 

Bom fim de semana.  

Maiores altas 

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B2W: 5,11%

Suzano: 2,50%

JHSF: 2,46%

Rumo: 2,27%

CPFL: 1,51%   

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Maiores baixas

CSN: -8,08%

Gerdau: -6,02%

Metalúrgica Gerdau: -5,58%

Locamérica: -5,51%

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Bradespar: -5,13%

Dólar 

Alta de 1,81%, a R$ 5,30

Em NY

S&P 500: -0,72%, a 3.768 pontos

Nasdaq: – 0,87%, a 12.998 pontos 

Dow Jones: -0,57%, a 30.814 pontos

Petróleo

Brent (referência internacional): queda de 2,33%, a US$ 55,10

WTI (referência nos EUA): queda de 2,55%, a US$ 52,36 

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